Desfazer as confusões pd52 | Page 71

Os fatos novos do mundo rural brasileiro São inúmeras as mudanças com significação (social, econô- mica, tecnológica) que emergiram claramente nas regiões rurais nas últimas décadas, e que mereceriam uma extensa discussão analítica. Não são fatos ocasionais, mas situações e tendências que contribuem para demonstrar a formação de uma fase inédita na história rural brasileira, geradora de profundas implicações para o futuro imediato do setor. Em outras situações, ocorrem movimentos territoriais que espelham a mobilidade do capital em busca de sua maximização, orientação econômica que era ainda relativamente débil no passado agrário do Brasil. Nesse comentário são apresentados e discutidos sinteticamente “sete fatos novos” principais que vêm marcando este processo de transformação, não apenas da produção, mas igualmente da vida social rural. São fatos que apresentam forte magnitude em algumas regiões e menos em outras, como seria esperado em um espaço econômico que é muito extenso (geograficamente), espe- lhando o aprofundamento de sua heterogeneidade estrutural. O que é comum aos fatores discutidos a seguir, contudo, é que todos estão em desenvolvimento nas regiões rurais, suas dife- renças sendo apenas de intensidade e escopo. Essas mudanças, se analisadas conjuntamente, claramente apontam para uma etapa emergente do desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro ou, em termos mais conceituais, uma nova etapa de acumulação, pois a terra, que no passado era a principal fonte de riqueza no campo, vai aos poucos cedendo lugar às várias modalidades de capital. É esse pressuposto que permite afirmar com convicção sobre “o fim do agrário” no Brasil rural, tal como se apresentou na maior parte da história do país. Na gênese do período analisado, existindo trabalhadores rurais em alta proporção, como era o caso brasileiro nas décadas de 1950 a 1970 (ou seja, uma oferta de trabalho sobrante e barata), o preço do fator trabalho seria sempre rebaixado e, assim, as mudanças operadas no processo de produção favoreciam o uso intensivo da mão de obra, ancoradas em salários aviltantes e a inexistência de direitos trabalhistas. E a abundância de terras (apropriadas privadamente), na maior parte das situações, foi um estímulo poderoso à expansão da agropecuária através do cresci- mento da área plantada e da pecuária extensiva – como foi o caso brasileiro até um período recente. Ambas as situações desfavorece- ram a modernização no campo, mantendo baixos indicadores de O Brasil rural (1968-2018): 69