Os fatos novos do mundo rural brasileiro
São inúmeras as mudanças com significação (social, econô-
mica, tecnológica) que emergiram claramente nas regiões rurais
nas últimas décadas, e que mereceriam uma extensa discussão
analítica. Não são fatos ocasionais, mas situações e tendências
que contribuem para demonstrar a formação de uma fase inédita
na história rural brasileira, geradora de profundas implicações
para o futuro imediato do setor. Em outras situações, ocorrem
movimentos territoriais que espelham a mobilidade do capital
em busca de sua maximização, orientação econômica que era
ainda relativamente débil no passado agrário do Brasil. Nesse
comentário são apresentados e discutidos sinteticamente “sete
fatos novos” principais que vêm marcando este processo de
transformação, não apenas da produção, mas igualmente da
vida social rural. São fatos que apresentam forte magnitude em
algumas regiões e menos em outras, como seria esperado em um
espaço econômico que é muito extenso (geograficamente), espe-
lhando o aprofundamento de sua heterogeneidade estrutural.
O que é comum aos fatores discutidos a seguir, contudo, é que
todos estão em desenvolvimento nas regiões rurais, suas dife-
renças sendo apenas de intensidade e escopo. Essas mudanças,
se analisadas conjuntamente, claramente apontam para uma
etapa emergente do desenvolvimento do capitalismo no campo
brasileiro ou, em termos mais conceituais, uma nova etapa de
acumulação, pois a terra, que no passado era a principal fonte
de riqueza no campo, vai aos poucos cedendo lugar às várias
modalidades de capital. É esse pressuposto que permite afirmar
com convicção sobre “o fim do agrário” no Brasil rural, tal como
se apresentou na maior parte da história do país.
Na gênese do período analisado, existindo trabalhadores
rurais em alta proporção, como era o caso brasileiro nas décadas
de 1950 a 1970 (ou seja, uma oferta de trabalho sobrante e barata),
o preço do fator trabalho seria sempre rebaixado e, assim, as
mudanças operadas no processo de produção favoreciam o uso
intensivo da mão de obra, ancoradas em salários aviltantes e a
inexistência de direitos trabalhistas. E a abundância de terras
(apropriadas privadamente), na maior parte das situações, foi um
estímulo poderoso à expansão da agropecuária através do cresci-
mento da área plantada e da pecuária extensiva – como foi o caso
brasileiro até um período recente. Ambas as situações desfavorece-
ram a modernização no campo, mantendo baixos indicadores de
O Brasil rural (1968-2018):
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