do total da população deixou as regiões rurais, procurando novas
formas de ocupação nas áreas urbanas.
Em síntese, na comparação de meio século a base original de
partida é melancólica: o quinto maior país do mundo, com amplos
recursos de água, energia e recursos naturais, mostrava-se incapaz
naqueles anos até de alimentar adequadamente sua população.
E as regiões rurais ostentavam indicadores deploráveis de atraso
econômico e social, inclusive no tocante aos direitos humanos
mais elementares. Era uma base estrutural que refletia uma
história de concentração extrema da propriedade da terra, poder
e da riqueza em geral, somada a outros processos históricos que
deixaram um grave legado negativo, como a escravidão que vigo-
rou até o final do século 19.
Meio século depois, esta é realidade que não foi totalmente
transformada, pois inúmeros aspectos problemáticos, sobretudo
sociais, ainda persistem, associados a esse quadro do passado.
Mas, se considerado como um todo, o mundo rural de hoje não
pode ser comparado com aqueles tempos antigos, pois as diferen-
ças são profundas e estruturais. O Brasil emerge atualmente como
um dos maiores produtores mundiais de alimentos, sendo prova-
velmente o único dos grandes países com um forte setor agrope-
cuário capaz de ampliar muito mais a sua presença nos mercados
globais. Alguns breves fatos empíricos são ilustrativos desta tran-
sição: em 1970, a agricultura brasileira praticamente não utilizava
produtos químicos, mas, atualmente, o Brasil consome entre um
sexto e um sétimo do total mundial. No mesmo ano inicial, exis-
tiam em torno de 50 mil tratores, todos importados, concentrados
na cafeicultura de São Paulo, enquanto em nossos dias em torno
de 60-70 mil novos tratores são vendidos a cada ano (todos produ-
zidos no Brasil). A produção de soja não constava do Censo Agrope-
cuário em 1970, pois começava a ser plantada, enquanto atual-
mente o país está na iminência de se tornar o maior produtor
mundial desta commodity. E o mais decisivo de todos os indicado-
res: se comparados os dois extremos temporais, atualmente o setor
agropecuário produz 80 vezes mais riqueza (em termos de valor
real bruto da produção), o que tem irrigado monetariamente o
sistema agroalimentar – e a economia como um todo. São rápidas
ilustrações, citadas aqui apenas para sugerir um passado agrário
que está deixando de existir.
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Zander Navarro; Maria Thereza Macedo Pedroso