Por isso a proposta pode ser recebida com interesse também
por reformistas teimosos que acreditam na possibilidade de uma
outra esquerda vir a existir no Brasil e, ao mesmo tempo, têm o
realismo de assumir isso só como um desejo, sem se verem no
direito de fixar prazos para sua concretização, nem mesmo os
mais longos. Teimosos assim não se sentirão plenamente satisfei-
tos com a eventual formação de um centro radical, mas reconhe-
cem nele uma necessidade não transitória, permanente. Lugar de
diálogo preferível a uma mera frente de esquerda, que ficará presa
a uma metodologia política negativa, prorrogando uma polariza-
ção nociva, ademais terreno propício, hoje em dia, ao avanço da
direita extrema, como acaba de mostrar o resultado eleitoral.
No diálogo com um centro radicalmente democrático será mais
possível garimpar elementos para uma esquerda renovada e reno-
vadora, missão para gente de uma faixa etária cuja maturidade
provavelmente as pessoas que já são maduras hoje não testemu-
nharão. Então, nada a fazer senão esquecer o medo de, mais uma
vez, trilhar caminhos longos, gravitando em torno desse centro.
Sim, pois foi radical o centro tecido na transição democrática sob
a liderança de Ulisses Guimarães, com suas imprescindíveis
parcerias à direita e à esquerda. E valeu a pena.
Desta vez, a trilha não é necessária, como foi há 30 anos, para
fundar uma democracia, posto que a democracia que temos vive
com saúde bastante para refratar pressões que buscam enfraque-
cê-la. Tampouco ela persegue o signo puramente negativo da
resistência em nome do já conquistado. A trilha pode ter, inclu-
sive, o sentido – se for permitido aqui um lugar comum – de "demo-
cratizar a democracia". Sentido que é uma boa tradução política
do valor da palavra paciência, um bem que se faz escasso nesses
anos de crise e que precisamos reaver.
O nome deste contra espectro não é otimismo. São três os seus
nomes: simpatia (pela obra já construída), confiança (em seu
alicerce) e paciência, para retomar, na contramão do pathos profé-
tico, a construção permanente.
A gramática da política contra o pathos profético
59