tradição, é uma boa diagonal para reconectar tradição e projeto,
nesse tempo presente de tantos elos partidos.
No plano complexo das aproximações cuidadosas estão outros
dois pontos de nossa tradição política, tal como ela se nos apre-
senta, como cultura política, em reflexões referenciais de Werneck
Vianna, Maria Alice Rezende de Carvalho e Rubem Barboza Filho,
lembradas pelo primeiro em artigo publicado no mesmo dia do de
Fernando Henrique e no mesmo jornal. Um ponto é o que Faoro e
Schwartzman, evocando Weber, batizaram de patrimonialismo.
Outro, o que os outros citados viram, seguindo pistas de Richard
Morse, como tempero comunitarista.
Vamos logo ao tempero. Suposto como capaz, ao contrário do
individualismo “neoliberal”, de cadenciar o impacto da lógica de
mercado de modo a acolhê-la como solução moderna, porém de
modo atento a noções de bem comum reclamadas por nossa cons-
tituição mental e pela desigualdade social, ele não tem lugar na
reflexão setentista de Schwartzman. Sua convicção ia na linha de
proclamar a superação dessa tradição, o que o pôs em memorável
controvérsia com Morse. Já com Fernando Henrique, por seu
manejo politicamente responsável da dialética da ambiguidade, é
mais fácil o diálogo, sobretudo no tempo de Bolsonaro, em que a
busca de convergência socialdemocrática volta a entrar em pauta.
Em compensação, no campo do individualismo desponta, querendo
também um espaço na pauta, a mensagem ainda enigmática do
partido Novo e de tudo de novidade que ele traz consigo. Dentre
elas a pergunta sobre se um “radicalismo de centro” acolhe uma
nova direita como parte ou interlocutora.
A pergunta se mantém no segundo ponto da pauta das apro-
ximações cuidadosas, a crítica ao patrimonialismo e seus filhotes
pleno (o clientelismo) e bastardo (o fisiologismo e a corrupção).
É consenso merecerem crítica e combate por uma política demo-
crática. Mas é controverso que seja possível, eficaz, ou mesmo
conveniente, fazê-lo através de uma ética de convicção, como
parece imaginar Schwartzman, em linha com uma longeva tradi-
ção do idealismo constitucional brasileiro. Essa conexão, como
sabemos, está presente, ainda que não hegemonicamente, no DNA
político do PSDB, especialmente do seu núcleo paulista e a essa
influência não escapam o pensamento e ação de Fernando Henri-
que Cardoso, ainda que, outra vez, ele possa ir ao diálogo com o
matiz da dialética da ambiguidade.
56
Paulo Fábio Dantas Neto