Desfazer as confusões pd52 | Page 54

e foi o do golpe. O autoritarismo cortara o caminho da democracia para conter as massas, não se podendo saber se elas, uma vez não fossem contidas e estando submetidas ao rigor da crise econômica, iriam à rebelião ou adeririam a alguma forma de fascismo. Perguntas sobre ontem e sobre hoje, a partir do texto de Schwartzman O janismo, derivação da área paulista, foi uma refração eleito- ral à pressão exercida pelo espectro do fascismo? Ou o populismo de direita vitorioso era só um biombo? Se era, não se sabe, nem se saberá. Sabemos é que houve muito mais que isso, depois. E o muito mais que houve teve a ver com escolhas políticas. Jânio ganhou com folga a eleição de 60 em aliança com os liberais. Sua renúncia foi o marco inicial da crise que levou ao golpe. A rápida saída de cena daquele populista “inorgânico” levou a um pacto parlamentarista. Durou um ano e meio. Sua revogação por plebis- cito colocou frente à frente, a partir do fracasso – politicamente promovido, por governo e oposição – do Plano Trienal de San Tiago Dantas e Celso Furtado, dois campos indispostos ao entendi- mento político. Eram liberais cada vez mais descrentes em elei- ções como meio de “civilizar” a democracia populista e um popu- lismo oficialista, “orgânico”, cada vez mais disposto a usar, até às últimas consequências, os meios de cooptação de que dispunha para fazer, com ou contra o Congresso, as reformas de base, pelas quais mobilizara, a partir de cima, massas urbanas e rurais. Tudo isso não ocorreu só porque Jânio renunciou. Mas sem a renúncia, os fatos (ignotos) seriam outros. Fato dado é que o confronto terminou em duas décadas de dita- dura. Custo não apenas para a esquerda negativa, mas para todo o país. Compareciam antes do golpe – e depois dele, ainda mais – práticas similares ao fascismo, mas não se chegou nem ao primeiro estágio do fascismo. Não houve movimento fascista, penetração fascista, governo fascista, nem regime fascista e a política não morreu. Mas perdemos uma democracia e isso não foi pouco. Tanto o exercício conceitual, quanto a visita à história devem nos fazer pensar no atual momento. Entender, pela análise, a vitória eleitoral e política de Jair Bolsonaro nos marcos do regime democrático em que vivemos é mais útil do que saber como é, será ou seria um fascismo, ou um “neofascismo”, à brasileira. Em artigo recente, Werneck Vianna afirmou que a hora é dos intelec- 52 Paulo Fábio Dantas Neto