e foi o do golpe. O autoritarismo cortara o caminho da democracia
para conter as massas, não se podendo saber se elas, uma vez não
fossem contidas e estando submetidas ao rigor da crise econômica,
iriam à rebelião ou adeririam a alguma forma de fascismo.
Perguntas sobre ontem e sobre hoje, a partir do texto de
Schwartzman
O janismo, derivação da área paulista, foi uma refração eleito-
ral à pressão exercida pelo espectro do fascismo? Ou o populismo
de direita vitorioso era só um biombo? Se era, não se sabe, nem se
saberá. Sabemos é que houve muito mais que isso, depois. E o
muito mais que houve teve a ver com escolhas políticas. Jânio
ganhou com folga a eleição de 60 em aliança com os liberais. Sua
renúncia foi o marco inicial da crise que levou ao golpe. A rápida
saída de cena daquele populista “inorgânico” levou a um pacto
parlamentarista. Durou um ano e meio. Sua revogação por plebis-
cito colocou frente à frente, a partir do fracasso – politicamente
promovido, por governo e oposição – do Plano Trienal de San Tiago
Dantas e Celso Furtado, dois campos indispostos ao entendi-
mento político. Eram liberais cada vez mais descrentes em elei-
ções como meio de “civilizar” a democracia populista e um popu-
lismo oficialista, “orgânico”, cada vez mais disposto a usar, até às
últimas consequências, os meios de cooptação de que dispunha
para fazer, com ou contra o Congresso, as reformas de base, pelas
quais mobilizara, a partir de cima, massas urbanas e rurais. Tudo
isso não ocorreu só porque Jânio renunciou. Mas sem a renúncia,
os fatos (ignotos) seriam outros.
Fato dado é que o confronto terminou em duas décadas de dita-
dura. Custo não apenas para a esquerda negativa, mas para todo
o país. Compareciam antes do golpe – e depois dele, ainda mais –
práticas similares ao fascismo, mas não se chegou nem ao primeiro
estágio do fascismo. Não houve movimento fascista, penetração
fascista, governo fascista, nem regime fascista e a política não
morreu. Mas perdemos uma democracia e isso não foi pouco.
Tanto o exercício conceitual, quanto a visita à história devem
nos fazer pensar no atual momento. Entender, pela análise, a
vitória eleitoral e política de Jair Bolsonaro nos marcos do regime
democrático em que vivemos é mais útil do que saber como é, será
ou seria um fascismo, ou um “neofascismo”, à brasileira. Em
artigo recente, Werneck Vianna afirmou que a hora é dos intelec-
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Paulo Fábio Dantas Neto