cer a acuidade da sua análise e o diálogo vivo que ela mantém
com a empiria brasileira.
O cenário a que o autor se reporta, no sexto capítulo do livro, é
o da democracia da Constituição de 1946 que, de muitos, recebe o
adjetivo de populista. A remissão àquele contexto nessa exposição
não é uma escolha. Se dependesse do expositor, ele já seria tratado
só como história. Mas discursos vigentes na cena pública atual, à
direita e à esquerda, têm insistido no viés anacrônico e encontrado
audiência. De modo que para dialogar, assim como foi aceito o tema
fascismo, aceita-se aqui também revisitar o passado. Para isso
recorrendo a Schwartzman, pois de sua obra surgem pontes para
se chegar à bem diversa realidade, que é o nosso presente.
Pedindo desculpas a quem já o conhece, será brevemente apre-
sentado o argumento geral de Schwartzman, com base num
resumo que dele faz Bolivar Lamounier. Recurso, portanto, a um
liberal que, no campo ideológico, afina-se, mais que o expositor,
com o texto comentado. Isso diminui o risco de uma interpretação
distorcer o argumento.
Pelas lentes de Lamounier, lemos em Schwartzman que no
Brasil uma polaridade Estado x sociedade ganhou vida numa
“macroestrutura patrimonialista” contraposta a uma “base social
pobre e amorfa na maior parte do país”. Já em São Paulo teria
germinado um subsistema político nitidamente diferenciado.
O contraste justifica, ainda conforme Lamounier, a chave analí-
tica de Schwartzman, centrada na contraposição entre as noções
de cooptação e representação, as quais expressam e nomeiam
dois subsistemas diferenciados, coetâneos durante a democracia
vigente de 1946 a 1964, com dominância do primeiro. A partir
daqui prossegue-se já sem a guia de Lamounier.
O livro de Schwartzman é de 1975, atualizado no final da tran-
sição democrática. O autor assinala a excepcionalidade do regime
de 46 a 64 em termos de participação política de massas. Essa
excepcionalidade, em alguns momentos aparece de modo a que o
período possa ser encarado como parênteses numa história cujo fio
condutor é o autoritarismo. O autor não salienta ter o Brasil uma
experiência histórica de construção do Estado através não só de
uma monarquia em linha de continuidade com Portugal mas
também através, como salienta José Murilo de Carvalho, de poder
civil e governo representativo, em contraste com o militarismo e o
caudilhismo de nossos vizinhos colonizados pela Espanha. Mas,
A gramática da política contra o pathos profético
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