Desfazer as confusões pd52 | Page 49

os polos enquanto, na política, extrapola pela direita, o que é certo no fascismo é a recusa do centro. Nas palavras de Paxton, desprezo absoluto pela suavidade, pela complacência e por soluções de compromisso; desdém pelo parlamentarismo liberal e seu indivi- dualismo cosmopolita e displicente, assumindo um tom radical ao preconizar remédios contra a desunião nacional que atribui ao liberalismo, como ao socialismo. Tudo isso contrasta com a facili- dade com que, sendo arauto de uma violência que considera revo- lucionária, celebra alianças pragmáticas com conservadores. Como também as celebra com nostálgicos, embora vendam-se também como demiurgos de uma nova ordem; d) fascismo e democracia: para Paxton, fascismo é, sobretudo, movimento político, inconcebível sem a precondição da política de massas. Assim, é fenômeno tardio, que desfere um ataque a esquerdas integradas à democracia, como a esquerda que Engels via crescendo no terreno eleitoral europeu no final do século XIX. Uma ditadura que provoca entusiasmo popular de modo inédito, imprevisto, apenas intuído por poucos, como Tocqueville, citado pelo autor: “o tipo de opressão com o qual são ameaçados os povos democráticos não se parecerá com nada antes visto no mundo... busco em vão uma expressão que reproduza com exatidão a ideia que formo dele e que o contenha. As velhas palavras despotismo e tirania não são adequadas”. Paxton não parte de uma definição, mínima que seja, de fascismo. Por outro lado, não cede a uma indeterminação que faça a ideia parecer “o que ocorrer” para permitir acionar o termo contra quem se quer desqualificar. Descreve e analisa o fascismo, do ponto de vista histórico, como uma estratégia cumprida em cinco está- gios: 1) a criação dos movimentos fascistas; 2) seu enraizamento no sistema político; 3) a tomada do poder; 4) o exercício do poder; 5) a radicalização do regime. O fascismo é a resultante do processo que cumpre essas etapas em dinâmica cumulativa. Argumenta o autor que não é possível, em meio à variedade de situações nacionais, encontrar-se o fascismo pronto no primeiro estágio, da sua criação e organização como movimento: “A compreensão dos primeiros movimentos nos fornece apenas uma visão parcial e incompleta do fenômeno como um todo”. Por assim dizer, a anatomia do macaco não permitiria ver o homem. Mas a criação dos movimentos é o ponto de partida. Se o primeiro estágio não pode revelar, sem ele não haverá o que ser revelado depois. A pergunta agora é: a empiria brasileira atualmente serve A gramática da política contra o pathos profético 47