os polos enquanto, na política, extrapola pela direita, o que é certo
no fascismo é a recusa do centro. Nas palavras de Paxton, desprezo
absoluto pela suavidade, pela complacência e por soluções de
compromisso; desdém pelo parlamentarismo liberal e seu indivi-
dualismo cosmopolita e displicente, assumindo um tom radical ao
preconizar remédios contra a desunião nacional que atribui ao
liberalismo, como ao socialismo. Tudo isso contrasta com a facili-
dade com que, sendo arauto de uma violência que considera revo-
lucionária, celebra alianças pragmáticas com conservadores.
Como também as celebra com nostálgicos, embora vendam-se
também como demiurgos de uma nova ordem;
d) fascismo e democracia: para Paxton, fascismo é, sobretudo,
movimento político, inconcebível sem a precondição da política de
massas. Assim, é fenômeno tardio, que desfere um ataque a
esquerdas integradas à democracia, como a esquerda que Engels
via crescendo no terreno eleitoral europeu no final do século XIX.
Uma ditadura que provoca entusiasmo popular de modo inédito,
imprevisto, apenas intuído por poucos, como Tocqueville, citado
pelo autor: “o tipo de opressão com o qual são ameaçados os povos
democráticos não se parecerá com nada antes visto no mundo...
busco em vão uma expressão que reproduza com exatidão a ideia
que formo dele e que o contenha. As velhas palavras despotismo e
tirania não são adequadas”.
Paxton não parte de uma definição, mínima que seja, de
fascismo. Por outro lado, não cede a uma indeterminação que faça
a ideia parecer “o que ocorrer” para permitir acionar o termo contra
quem se quer desqualificar. Descreve e analisa o fascismo, do ponto
de vista histórico, como uma estratégia cumprida em cinco está-
gios: 1) a criação dos movimentos fascistas; 2) seu enraizamento no
sistema político; 3) a tomada do poder; 4) o exercício do poder; 5) a
radicalização do regime. O fascismo é a resultante do processo que
cumpre essas etapas em dinâmica cumulativa.
Argumenta o autor que não é possível, em meio à variedade de
situações nacionais, encontrar-se o fascismo pronto no primeiro
estágio, da sua criação e organização como movimento:
“A compreensão dos primeiros movimentos nos fornece apenas
uma visão parcial e incompleta do fenômeno como um todo”. Por
assim dizer, a anatomia do macaco não permitiria ver o homem.
Mas a criação dos movimentos é o ponto de partida. Se o primeiro
estágio não pode revelar, sem ele não haverá o que ser revelado
depois. A pergunta agora é: a empiria brasileira atualmente serve
A gramática da política contra o pathos profético
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