Desfazer as confusões pd52 | Page 48

fenômeno fascista. Paxton examina a trajetória histórica do fascismo como “uma série de processos que se desenrolam ao longo do tempo, e não como expressões de uma essência fixa”. Resultam daí dois alertas. Cuidado com imagens sintetizadoras: em vez de síntese, o fascismo pede análise. Em vez de se ater ao “demagogo chauvinista discursando bombasticamente para uma multidão em êxtase”; “fileiras disciplinadas de jovens desfilando em paradas militares”; “militantes vestindo camisas coloridas e espancando membros de alguma minoria demonizada”, ou – poderíamos dizer hoje e aqui – a homens brancos, machistas, homofóbicos, racistas, sejam “coxi- nhas” arrogantes ou “gorilas” ameaçadores, é preciso verificar as relações entre líder e nação; entre o partido e a sociedade civil. O exame dessas relações pelo método empírico e analítico é que pode nos dizer se está presente o ovo da serpente ou ela mesma, em pessoa. Ou se fatos concretos que se atribui ideologicamente a fascismo devem ser vistos como situações genéricas de autorita- rismo, discriminação e violência praticados, reacionariamente, por pessoas e grupos insatisfeitos com a realidade da democracia numa sociedade que a valoriza mais que no passado. O que os fascistas fizeram é no mínimo tão informativo do que o que eles disseram: é preciso considerar ambas as dimensões, pois são bastante ambíguas as relações entre: a) fascismo e modernidade, cabendo duvidar da oposição biná- ria entre fascismo como reação antimodernista e fascismo como ditadura da modernização. Promotor em vários casos de raciona- lização tecnológica, difusão propagandística de uma estética hi tec e forte desenvolvimento industrial, não obstante cultiva uma utopia agrária e a crítica ao desenraizamento, conflitos e imorali- dade da vida urbana; b) fascismo e capitalismo: cabendo evitar as simplificações de considerá-lo ditadura reacionária anticapitalista ou uma estraté- gia do capitalismo. Sua retórica anticapitalista é seletiva, contra o apego a valores materiais, eventualmente contra a especulação, mas não contra a exploração; do mesmo modo demoniza e mime- tiza o socialismo, sem que se saiba até onde compete com parti- dos socialistas pela simpatia das massas trabalhadoras ou até onde pretende antagonizá-las a partir da direita; c) fascismo, esquerda e direita: negando em geral o sentido dessa oposição e flertando ambiguamente com signos de ambos 46 Paulo Fábio Dantas Neto