fenômeno fascista. Paxton examina a trajetória histórica do
fascismo como “uma série de processos que se desenrolam ao
longo do tempo, e não como expressões de uma essência fixa”.
Resultam daí dois alertas.
Cuidado com imagens sintetizadoras: em vez de síntese, o
fascismo pede análise. Em vez de se ater ao “demagogo chauvinista
discursando bombasticamente para uma multidão em êxtase”;
“fileiras disciplinadas de jovens desfilando em paradas militares”;
“militantes vestindo camisas coloridas e espancando membros de
alguma minoria demonizada”, ou – poderíamos dizer hoje e aqui – a
homens brancos, machistas, homofóbicos, racistas, sejam “coxi-
nhas” arrogantes ou “gorilas” ameaçadores, é preciso verificar as
relações entre líder e nação; entre o partido e a sociedade civil.
O exame dessas relações pelo método empírico e analítico é que
pode nos dizer se está presente o ovo da serpente ou ela mesma, em
pessoa. Ou se fatos concretos que se atribui ideologicamente a
fascismo devem ser vistos como situações genéricas de autorita-
rismo, discriminação e violência praticados, reacionariamente, por
pessoas e grupos insatisfeitos com a realidade da democracia numa
sociedade que a valoriza mais que no passado.
O que os fascistas fizeram é no mínimo tão informativo do que
o que eles disseram: é preciso considerar ambas as dimensões,
pois são bastante ambíguas as relações entre:
a) fascismo e modernidade, cabendo duvidar da oposição biná-
ria entre fascismo como reação antimodernista e fascismo como
ditadura da modernização. Promotor em vários casos de raciona-
lização tecnológica, difusão propagandística de uma estética hi
tec e forte desenvolvimento industrial, não obstante cultiva uma
utopia agrária e a crítica ao desenraizamento, conflitos e imorali-
dade da vida urbana;
b) fascismo e capitalismo: cabendo evitar as simplificações de
considerá-lo ditadura reacionária anticapitalista ou uma estraté-
gia do capitalismo. Sua retórica anticapitalista é seletiva, contra
o apego a valores materiais, eventualmente contra a especulação,
mas não contra a exploração; do mesmo modo demoniza e mime-
tiza o socialismo, sem que se saiba até onde compete com parti-
dos socialistas pela simpatia das massas trabalhadoras ou até
onde pretende antagonizá-las a partir da direita;
c) fascismo, esquerda e direita: negando em geral o sentido
dessa oposição e flertando ambiguamente com signos de ambos
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Paulo Fábio Dantas Neto