Desfazer as confusões pd52 | Page 47

razão a alguma base factual comum encontra-se interditado por uma não razoabilidade, fera solta na conjuntura. No último dia 9 de novembro, aconteceu na UFBa uma mesa de discussão em torno de um tema – fascismo e democracia – que à maioria dos promotores e participantes parecia imperativo discutir nesse momento. O texto a seguir foi uma contribuição de alguém que não compartilha essa opinião, por achar que fascismo é um tema excêntrico para o entendimento do que se passa no Brasil atual. Mas reconhece que valeu a pena a discussão. O grande interesse que temas políticos felizmente despertam nesse momento permitiram um auditório lotado por um público mais diversificado do que professores e estudantes. Aliás, eram poucos os professores presentes e os estudantes muitos e atentos na escuta, alguns se arriscando a interpelar as falas. O resultado motiva congratulações aos promotores e homenagens a quem até ali se deslocou. Tornar mais público o texto que serviu de roteiro à fala é um modo de agradecer a oportunidade de ter participado daquele momento. Esse preâmbulo, ausente na apresentação oral, foi um esforço de descrição do contexto para leitores extra univer- sitários. Segue agora o texto. Fascismo, um tema fora do lugar Fala-se de fascismo, há semanas, e resolveu-se falar hoje com mais vagar. Difícil considerar que seja tema pertinente a algo que sucede ou está em vias de suceder no Brasil. Mas tudo bem, a percepção contrária existe em nosso meio, daí porque, em vez de argumentar através de interpretação da conjuntura, encara-se aqui a discussão conceitual, avisando que fascismo é o assunto inicial, sem ser o centro da fala. O centro será uma reflexão sobre nossa democracia e as possibilidades abertas, no seu âmbito – agora com ainda mais sentido – ao exercício da política. A referência usada aqui para tratar do tema fascismo e depois opinar sobre sua impertinência ao nosso momento é um livro do professor Robert Paxton, cujo título é Anatomia do fascismo. Trata-se de um estudo comparativo de processos transcorridos em muitos países, envolvendo movimentos políticos, estratégias eleitorais e institucionais, governos e regimes que, afinal, podem ser, de algum modo, associados a fascismo. A diversidade de situações leva o autor a se contrapor a boa parte da literatura especializada, que se concentra na ideologia para tentar definir o A gramática da política contra o pathos profético 45