razão a alguma base factual comum encontra-se interditado por
uma não razoabilidade, fera solta na conjuntura.
No último dia 9 de novembro, aconteceu na UFBa uma mesa
de discussão em torno de um tema – fascismo e democracia – que
à maioria dos promotores e participantes parecia imperativo
discutir nesse momento. O texto a seguir foi uma contribuição de
alguém que não compartilha essa opinião, por achar que fascismo
é um tema excêntrico para o entendimento do que se passa no
Brasil atual. Mas reconhece que valeu a pena a discussão.
O grande interesse que temas políticos felizmente despertam
nesse momento permitiram um auditório lotado por um público
mais diversificado do que professores e estudantes. Aliás, eram
poucos os professores presentes e os estudantes muitos e atentos
na escuta, alguns se arriscando a interpelar as falas. O resultado
motiva congratulações aos promotores e homenagens a quem até
ali se deslocou. Tornar mais público o texto que serviu de roteiro
à fala é um modo de agradecer a oportunidade de ter participado
daquele momento. Esse preâmbulo, ausente na apresentação oral,
foi um esforço de descrição do contexto para leitores extra univer-
sitários. Segue agora o texto.
Fascismo, um tema fora do lugar
Fala-se de fascismo, há semanas, e resolveu-se falar hoje com
mais vagar. Difícil considerar que seja tema pertinente a algo que
sucede ou está em vias de suceder no Brasil. Mas tudo bem, a
percepção contrária existe em nosso meio, daí porque, em vez de
argumentar através de interpretação da conjuntura, encara-se
aqui a discussão conceitual, avisando que fascismo é o assunto
inicial, sem ser o centro da fala. O centro será uma reflexão sobre
nossa democracia e as possibilidades abertas, no seu âmbito –
agora com ainda mais sentido – ao exercício da política.
A referência usada aqui para tratar do tema fascismo e depois
opinar sobre sua impertinência ao nosso momento é um livro do
professor Robert Paxton, cujo título é Anatomia do fascismo.
Trata-se de um estudo comparativo de processos transcorridos
em muitos países, envolvendo movimentos políticos, estratégias
eleitorais e institucionais, governos e regimes que, afinal, podem
ser, de algum modo, associados a fascismo. A diversidade de
situações leva o autor a se contrapor a boa parte da literatura
especializada, que se concentra na ideologia para tentar definir o
A gramática da política contra o pathos profético
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