Desfazer as confusões pd52 | Page 44

mais se afirmam inúmeros círculos de reflexividade no campo intelectual, inclusive nas mídias. Naquela conjuntura de 2018, é de se perguntar o que queria o PT com a candidatura radicalizada do substituto de Lula, cujo programa apresentado ao TSE propunha a volta à Era Lula-Dilma, poder popular, constituinte, controle dos meios de comunicação. Na “segunda eleição” de segundo turno, quando neste caso in extremis as candidaturas se abrem ao que está finalmente posto e aos perigos da vitória do concorrente, Haddad permaneceu radi- calizado à espera do desfecho daquela polarização catastrófica prevista. Era seu direito, como de todos os partidos, apresentar- se com programa expressivo de seus interesses e estilo de campa- nha, como também não podia se eximir da responsabilidade de avaliar as questões gerais. Era por demais previsível, e desde o começo do processo elei- toral, que não só a opinião pública se apresentasse fortemente cindida como a maioria do eleitorado poderia não votar na classe política, nos seus setores de centro, nem no PT. Mesmo assim não deixa de ser surpreendente o fato de que Bolsonaro e principal- mente Haddad, que nas pesquisas veio de lá atrás, chegarem ao segundo turno quase levando, pelas suas campanhas, a uma grande maioria do eleitorado não identificado com nenhum deles, a votar nulo ou em branco. As eleições de 2018 transcorreram sem a intervenção eficaz de correntes moderadas que não conseguiram construir uma candi- datura competitiva. O maior partido das esquerdas e o seu líder deram as costas à conjuntura de colapso do sistema político, agindo corporativamente. Sempre se recusaram a entender que impedir o retrocesso significa deixar em aberto caminho para as melhorias da sociedade, mesmo que mais parciais e mais graduais. Eles seguiam embarcados nas teorias da revolução terceiro-mun- dista do século XXI no continente. Pelo que se vê nas verbalizações do PT, não há reconhecimento da derrota de grandes proposições que representa a eleição de Bolsonaro, justamente facilitada pelas duas radicalizações que dominaram a cena eleitoral – a rigor mobilizadas, cada uma no registro, por visões de sociedades fechadas. As eleições termina- ram num tsunami em que a imensa maioria do eleitorado se posi- cionou antissistema, particularmente impondo derrota desorga- nizadora às correntes moderadas da vida política brasileira. 42 Raimundo Santos