sociedade indicava que se vivia uma fase de “desequilíbrio catas-
trófico”, relembrando agora a expressão com a qual Caio Prado
caracterizava a conjuntura que se iniciara com a renúncia de
Jânio e seguia curso rápido no governo Jango.
Ele interpelava, desde 1956, nas páginas da Revista Brasi-
liense, as “forças populares e progressistas” daquela época, que
viam aquele quadro de instabilidade e de crescente isolamento
político de Jango como um momento em se formava uma correla-
ção de forças favorável à radicalização do processo. O que expres-
sava o “desequilíbrio catastrófico” de 2018 era o fato de que a
própria política entrara em decadência, tensionada pelas revela-
ções da Lava-Jato, momento, aliás, em que as atuações da área
partidária mostravam considerável fraqueza, fato este último
decisivo, ao qual o historiador comunista também se referira ao
falar da precipitação dos acontecimentos no imediato pré-64.
Já no início do processo eleitoral de 2018, a deterioração da
cena pública ia tornando claro que a imensa maioria do eleitorado
poderia não votar na classe política, incluídos nesta recusa Lula
e seu campo de militantes e movimentos sociais. Também ia
ficando evidente que o problema de 2013 novamente estava colo-
cado na eleição de 2018. E indicava ao campo das correntes mode-
radas que a situação se agravava, dia a dia, com o fracasso das
tentativas de organizarem uma terceira via que se aglutinasse ao
redor do centro político.
Ao se encerrar um breve tempo de busca de outsiders, Bolso-
naro se firmou como um polo de direita, de modo inusitado, haja
visto sua diminuta estrutura partidária e o escasso tempo de
TV, anunciando-se contra tudo e todos, ao tempo que, no extremo
oposto das esquerdas, igualmente inacreditável este dado, Lula,
mesmo preso, mantinha lastro capaz de, no processo eleitoral,
colocar-se em uma cena eleitoral em que, por fim, Bolsonaro e
Haddad se confrontariam no segundo turno, como calculavam
os estrategistas do PT.
Essas alternativas finais estavam longe dos tempos de diver-
sificação do mundo social e político brasileiro que se abriu com
a anistia, com o fim da ditadura, e depois com a eleição de
Tancredo no Colégio Eleitoral. Nesse tempo e mais ainda nas
décadas seguintes cada vez mais se manifesta a complexidade
de uma sociedade já moderna e rica culturalmente, e cada vez
A polarização das eleições de 2018
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