estatalmente de cima para baixo, como destino dos países subde-
senvolvidos. Inclusive no caso do Brasil, não por acaso dominan-
temente tido no campo petista e em boa parte da intelectualidade
como país terceiro-mundializado.
A tentativa revolucionária lulista pelo voto, a rigor de ocupa-
ção de crescentes espaços do Executivo, não empreendeu mudan-
ças produtivas reestruturantes – diversamente do que fizera FHC
entre meados dos anos 1990 e 2002 ao se deparar com a globali-
zação. Seguir com o modelo distributivista chamado de “nova
matriz” econômica exigiria o uso da força. Lula e o PT não conse-
guiriam converter em força a hegemonia que acreditavam ter na
sociedade brasileira, passando por cima de tudo, das instituições,
inclusive dos partidos e da classe política mesmo enfraquecidos.
Assim, eles não conseguiram organizar aqui no Brasil a “demo-
cracia de alta intensidade”, como pregava a teoria dos “movimen-
tos sociais como política” difundida no continente latino-ameri-
cano por uma sofisticada bibliografia internacional.
O experimento petista se radicaliza à medida que a presidente
Dilma ia se isolando crescentemente, sobremaneira quando
milhões saiam às ruas protestando contra o estado geral das
coisas, inclusive apoiando o seu afastamento, e contra a corrup-
ção. E mesmo que ela tenha sido substituída pelo seu vice-presi-
dente Temer, que se propôs no governo realizar uma transição
pacífica até as eleições de 2018, o fracasso da Era Lula não abriu
caminho para diminuir as tensões acirradas.
Este vai ser um tempo áspero entre os setores mobilizados
pelo PT e atores político-partidários cada vez mais numerosos
considerados pelos petistas como seus inimigos. É uma polariza-
ção que se generaliza, por um lado, coberta pelo “Fora Temer” e
seu lastro de ódio contra todos os “golpistas” que apoiaram o
impeachment; e, por outro, é um tempo de decadência do próprio
Temer que enfrentou, acusado de corrupção, duas tentativas de
afastamento, que, mesmo recusadas pela Câmara de Deputados,
levaram ao debilitamento inevitável do seu governo.
Esta é uma cena pública politicamente erosionada e muito
tensa que chega ao pleito de 2018, cujo problema de fundo, entre-
tanto, era o problema que estava posto desde 2013. Mas ele não
vai predominar nas visões dos setores ainda influentes, particu-
larmente o PT, mas também o PSDB, às voltas com crise interna
e o caso Aécio. Aquele fato básico da dissociação entre política e
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Raimundo Santos