Desfazer as confusões pd52 | Page 42

estatalmente de cima para baixo, como destino dos países subde- senvolvidos. Inclusive no caso do Brasil, não por acaso dominan- temente tido no campo petista e em boa parte da intelectualidade como país terceiro-mundializado. A tentativa revolucionária lulista pelo voto, a rigor de ocupa- ção de crescentes espaços do Executivo, não empreendeu mudan- ças produtivas reestruturantes – diversamente do que fizera FHC entre meados dos anos 1990 e 2002 ao se deparar com a globali- zação. Seguir com o modelo distributivista chamado de “nova matriz” econômica exigiria o uso da força. Lula e o PT não conse- guiriam converter em força a hegemonia que acreditavam ter na sociedade brasileira, passando por cima de tudo, das instituições, inclusive dos partidos e da classe política mesmo enfraquecidos. Assim, eles não conseguiram organizar aqui no Brasil a “demo- cracia de alta intensidade”, como pregava a teoria dos “movimen- tos sociais como política” difundida no continente latino-ameri- cano por uma sofisticada bibliografia internacional. O experimento petista se radicaliza à medida que a presidente Dilma ia se isolando crescentemente, sobremaneira quando milhões saiam às ruas protestando contra o estado geral das coisas, inclusive apoiando o seu afastamento, e contra a corrup- ção. E mesmo que ela tenha sido substituída pelo seu vice-presi- dente Temer, que se propôs no governo realizar uma transição pacífica até as eleições de 2018, o fracasso da Era Lula não abriu caminho para diminuir as tensões acirradas. Este vai ser um tempo áspero entre os setores mobilizados pelo PT e atores político-partidários cada vez mais numerosos considerados pelos petistas como seus inimigos. É uma polariza- ção que se generaliza, por um lado, coberta pelo “Fora Temer” e seu lastro de ódio contra todos os “golpistas” que apoiaram o impeachment; e, por outro, é um tempo de decadência do próprio Temer que enfrentou, acusado de corrupção, duas tentativas de afastamento, que, mesmo recusadas pela Câmara de Deputados, levaram ao debilitamento inevitável do seu governo. Esta é uma cena pública politicamente erosionada e muito tensa que chega ao pleito de 2018, cujo problema de fundo, entre- tanto, era o problema que estava posto desde 2013. Mas ele não vai predominar nas visões dos setores ainda influentes, particu- larmente o PT, mas também o PSDB, às voltas com crise interna e o caso Aécio. Aquele fato básico da dissociação entre política e 40 Raimundo Santos