A polarização das eleições de 2018
Raimundo Santos
O
s protestos de junho de 2013 mostraram a imensa disso-
ciação que se formara entre o mundo político e a sociedade
democratizada. Não se realçou o grande significado daque-
las manifestações de rua nem os jovens encontraram diálogo posi-
tivo e eficiente no campo partidário, no governo e na maioria das
esquerdas os protestos foram combatidos. Eles revelaram aquela
dissociação como o problema maior do sistema político; dissocia-
ção que inclusive aumentara na Era Lula no contexto do “nós” e
“eles”, quando a instrumentalização e a cooptação se generaliza-
ram no sentido oposto ao da democratização e da participação,
trazidas pela Constituição de 1988. O que se seguiu em 2014,
principalmente no processo eleitoral, terreno capaz de distender
confrontos e propiciar pacificações, não diminuiu aquele fosso.
Ao contrário, se impôs a polarização Dilma-Aécio que já não
espelhava a variedade das dimensões de uma sociedade que não
parava de se complexificar, mesmo sob os governos petistas.
Como no Estado Novo de Getúlio que sedimentara na cultura
política brasileira o modelo nacional-popular de dirigir o país em
todas suas áreas a partir do Estado, Lula e o PT também avoca-
vam a si a ideia da encarnação da nação. Os governos petistas
atualizaram o modelo varguista como uma revolução social-po-
pulista, comandada por Lula dentro e até mesmo de fora da Presi-
dência da República. Por essa razão, a Era petista galvanizou
quase todas as esquerdas identificadas com aquela raiz de revolu-
ção nacional popular.
Como é próprio do populismo, o experimento petista se baseava
na distribuição, sem o desenvolvimentismo reformista urgente,
mas gradual, como já dizia Celso Furtado em 1962, no tempo de
Jango, propondo esse caminho como o único capaz de, em regime
de liberdades democráticas, superar o subdesenvolvimento e
avançar em direção a uma sociedade cada vez mais aberta. Ele
referia sua alternativa democrática à história mais antiga das
revoluções socialistas, a partir das quais se criara a “opção
forçada” do crescimento rápido sem liberdade, pois construído
O fim de um ciclo
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