Desfazer as confusões pd52 | Page 41

A polarização das eleições de 2018 Raimundo Santos O s protestos de junho de 2013 mostraram a imensa disso- ciação que se formara entre o mundo político e a sociedade democratizada. Não se realçou o grande significado daque- las manifestações de rua nem os jovens encontraram diálogo posi- tivo e eficiente no campo partidário, no governo e na maioria das esquerdas os protestos foram combatidos. Eles revelaram aquela dissociação como o problema maior do sistema político; dissocia- ção que inclusive aumentara na Era Lula no contexto do “nós” e “eles”, quando a instrumentalização e a cooptação se generaliza- ram no sentido oposto ao da democratização e da participação, trazidas pela Constituição de 1988. O que se seguiu em 2014, principalmente no processo eleitoral, terreno capaz de distender confrontos e propiciar pacificações, não diminuiu aquele fosso. Ao contrário, se impôs a polarização Dilma-Aécio que já não espelhava a variedade das dimensões de uma sociedade que não parava de se complexificar, mesmo sob os governos petistas. Como no Estado Novo de Getúlio que sedimentara na cultura política brasileira o modelo nacional-popular de dirigir o país em todas suas áreas a partir do Estado, Lula e o PT também avoca- vam a si a ideia da encarnação da nação. Os governos petistas atualizaram o modelo varguista como uma revolução social-po- pulista, comandada por Lula dentro e até mesmo de fora da Presi- dência da República. Por essa razão, a Era petista galvanizou quase todas as esquerdas identificadas com aquela raiz de revolu- ção nacional popular. Como é próprio do populismo, o experimento petista se baseava na distribuição, sem o desenvolvimentismo reformista urgente, mas gradual, como já dizia Celso Furtado em 1962, no tempo de Jango, propondo esse caminho como o único capaz de, em regime de liberdades democráticas, superar o subdesenvolvimento e avançar em direção a uma sociedade cada vez mais aberta. Ele referia sua alternativa democrática à história mais antiga das revoluções socialistas, a partir das quais se criara a “opção forçada” do crescimento rápido sem liberdade, pois construído O fim de um ciclo 39