aquelas que resultaram na vitória de Donald Trump, nos Estados
Unidos, e na retirada do Reino Unido da União Europeia. Movi-
mentos nas redes, com sua inerente carga de inverdades e mani-
pulação, precederam as ondas de adesão a alguns candidatos e
de recusa a outros, o que torna legítimo imaginar uma relação de
causalidade entre os dois eventos.
Sustento, embora reconheça que a ideia é controversa, que a
terceira surpresa provocada pela eleição veio da maior politização
do embate, em comparação com as eleições recentes. A meu ver,
essa politização mostra-se, pelo menos, em três vertentes.
Primeiro, o sentimento, crescente, de rejeição ao sistema polí-
tico, que derrotou lideranças importantes dos dois campos que
polarizaram a política nacional nos últimos 25 anos. Nessa linha,
o voto de 2018 nasceu das manifestações de 2013, cresceu com as
revelações da Lava-Jato e atingiu seu ponto mais alto com a inca-
pacidade demonstrada pelos maiores partidos de reagir a essa
insatisfação. É certo que esse sentimento pode evoluir para uma
atitude de rejeição da política como um todo. Mas esse resultado
não é inexorável. Ocorrerá apenas na medida em que as institui-
ções não consigam acolher e processar as demandas do eleitor por
maior transparência e responsabilidade dos eleitos.
Segundo, a adesão do eleitor a pautas de campanha com
eixos de valores muito claros. Bolsonaro conseguiu assumir as
bandeiras que fermentavam na cabeça e no coração de grande
parte dos eleitores: a ordem, a garantia da segurança, a revalo-
rização dos valores tradicionais, ligados à família e à religião.
Ganhou assim o apoio de todos os eleitores que consideram
essas questões centrais hoje. Para os eleitores do PT, por outro
lado, o centro da agenda foi o combate à pobreza e à desigual-
dade, o que podemos chamar de políticas de equidade, tema que
toca também parte importante do eleitorado.
Evidentemente, muitos eleitores pensam dessa forma, tanto
que fizeram chegar esses candidatos ao segundo turno, derro-
tando os demais que, de uma forma ou de outra, subestimaram o
grau de politização da disputa.
Em terceiro lugar, é fato novo a emergência, na campanha, da
agenda dos costumes antes referida. Uma postura conservadora de
base na maioria do eleitorado brasileiro já havia sido identificada
por candidatos em eleições anteriores, quando temas como aborto
foram explorados na campanha. Desde então, cresceu, nas redes
O fim de um ciclo
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