O fim de um ciclo
D
Caetano Pereira de Araujo
ivulgados os resultados da eleição, a reação predominante
entre analistas, candidato e eleitores foi de surpresa. Na
verdade, sobram boas razões para a surpresa, uma vez
que, sob qualquer ponto de vista, o inesperado derrotou, por larga
margem, as poucas previsões confirmadas pela contagem dos votos.
A volatilidade do voto parece ser a primeira lição desse
processo. Na radicalização de uma tendência já anunciada em
eleições anteriores, de forma congruente com o que tem aconte-
cido em processos eleitorais de outros países, a intenção de voto
mostrou-se volúvel, mudando de candidato favorito até o último
minuto. Um número bem maior de eleitores definiu seu voto às
vésperas da eleição e a propensão a mudar essa definição parece
ser também maior hoje do que nos pleitos passados. Vimos no
período curto de quarenta e oito horas, a derrota de candidatos
tidos como eleitos e a vitória daqueles que as pesquisas aponta-
vam como derrotados. Nessa eleição, apenas as pesquisas de boca
de urna se revelaram confiáveis.
A segunda lição, relacionada à anterior, é a constatação de uma
mudança profunda no que podemos chamar de mercado dos meios
de fazer campanha eleitoral. Os recursos tradicionais de campa-
nha, principalmente tempo de televisão e dinheiro público, mas
também, no caso da eleição presidencial, os chamados palanques
estaduais, perderam, claramente, eficácia. Sofreram, prosseguindo
na analogia, uma desvalorização considerável. Candidatos com
pouco ou nenhum desses recursos obtiveram sucesso, enquanto o
desempenho de outros, com boa reserva de tempo e dinheiro para
gastar, foi pífio. Mesmo os palanques estaduais, mais que contri-
buir para o fortalecimento de uma candidatura, correram na dire-
ção oposta, ou seja, procuraram surfar na onda dos candidatos a
presidente com mais peso em cada estado. Adaptaram-se, pragma-
ticamente, ao movimento que percebiam nos eleitores.
Em contraste, verificou-se a valorização dos novos meios de
campanha, em particular a movimentação nas redes sociais, tal
como já observado em outras eleições recentes pelo mundo, como
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