Desfazer as confusões pd52 | Page 38

O fim de um ciclo D Caetano Pereira de Araujo ivulgados os resultados da eleição, a reação predominante entre analistas, candidato e eleitores foi de surpresa. Na verdade, sobram boas razões para a surpresa, uma vez que, sob qualquer ponto de vista, o inesperado derrotou, por larga margem, as poucas previsões confirmadas pela contagem dos votos. A volatilidade do voto parece ser a primeira lição desse processo. Na radicalização de uma tendência já anunciada em eleições anteriores, de forma congruente com o que tem aconte- cido em processos eleitorais de outros países, a intenção de voto mostrou-se volúvel, mudando de candidato favorito até o último minuto. Um número bem maior de eleitores definiu seu voto às vésperas da eleição e a propensão a mudar essa definição parece ser também maior hoje do que nos pleitos passados. Vimos no período curto de quarenta e oito horas, a derrota de candidatos tidos como eleitos e a vitória daqueles que as pesquisas aponta- vam como derrotados. Nessa eleição, apenas as pesquisas de boca de urna se revelaram confiáveis. A segunda lição, relacionada à anterior, é a constatação de uma mudança profunda no que podemos chamar de mercado dos meios de fazer campanha eleitoral. Os recursos tradicionais de campa- nha, principalmente tempo de televisão e dinheiro público, mas também, no caso da eleição presidencial, os chamados palanques estaduais, perderam, claramente, eficácia. Sofreram, prosseguindo na analogia, uma desvalorização considerável. Candidatos com pouco ou nenhum desses recursos obtiveram sucesso, enquanto o desempenho de outros, com boa reserva de tempo e dinheiro para gastar, foi pífio. Mesmo os palanques estaduais, mais que contri- buir para o fortalecimento de uma candidatura, correram na dire- ção oposta, ou seja, procuraram surfar na onda dos candidatos a presidente com mais peso em cada estado. Adaptaram-se, pragma- ticamente, ao movimento que percebiam nos eleitores. Em contraste, verificou-se a valorização dos novos meios de campanha, em particular a movimentação nas redes sociais, tal como já observado em outras eleições recentes pelo mundo, como 36