tindo crédito para os segmentos mais vulneráveis de nossa popula-
ção, o PT chegou ao poder com Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010),
que também esteve por oito anos no Palácio do Planalto, sendo
sucedido por Dilma Rousseff (2011-2016), reeleita para um segundo
mandato em 2014 e afastada, democrática e constitucionalmente,
por meio de um processo de impeachment em 2016.
Como consequência da desastrosa experiência lulopetista,
marcada pelo desmantelo da corrupção desenfreada e o enxova-
lhamento moral das esquerdas – o que acabou atingindo todo o
campo progressista, inclusive as correntes não alinhadas ao PT –,
uma parcela amplamente majoritária da sociedade brasileira, desta
vez, optou por escolher Bolsonaro, um candidato nitidamente de
direita, para governar o país pelos próximos quatro anos.
Neste caso, é bom salientar que não se trata apenas de um
conservador ou até mesmo de um nacionalista reacionário, mas
de um líder político que até se tornou conhecido mundialmente
por algumas declarações frontalmente contrárias aos direitos das
minorias, às liberdades individuais, às instituições republicanas
e à própria democracia.
Mas é preciso compreender o chamado “fenômeno Bolsonaro”
de forma mais profunda, inserido em um contexto de transfor-
mações nas sociedades em todo o mundo. Os partidos políticos
são instituições datadas do período da Revolução Industrial, ainda
no século XIX, e hoje têm enormes dificuldades para se adaptar à
nova realidade, pois perderam muito de sua interlocu- ção junto à
população. Por outro lado, vivemos novo período histórico em que
a revolução digital experimentada em todo o planeta certamente
oferece a possibilidade de criação de novas instituições também
na esfera política.
Este processo é caracterizado não apenas pelo desenvolvi-
mento das novas tecnologias e ferramentas de comunicação, mas,
de forma preponderante, por transformação radical na maneira
como nos relacionamos uns com os outros. O mundo digital nos
afeta a todos, em todos os segmentos de atividade, e dá origem a
novas organizações que substituirão as velhas estruturas. Temos
de estar preparados, mais do que nunca, para abandonar vícios e
valores ultrapassados que ficaram restritos a um mundo que não
mais voltará.
Nesse sentido, a ascensão de um parlamentar do baixo clero à
Presidência da República, com votação expressiva mesmo inte-
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Roberto Freire