social-financista, com níveis inéditos de consciência política
advindos da escolarização associada aos novos meios de mobili-
zação/informação – que a direita soube utilizar de maneira
eficiente a partir de 2015 (movimento pró-impeachment).
A resistência da ordem patrimonialista à mudança apontada
pelas urnas, que se ensaia pela aliança do lulopetismo com o
emedebismo-centrismo, já começou bem antes da posse do novo
governo, na forma de medidas legislativas (“pautas-bomba"), como
os aumentos salariais das corporações estatais – com apoio maciço
dos tucanos – ao arrepio da situação financeira do Estado, e a volta
da ameaça de indulto natalino aos corruptos, acrescida da proposta
legislativa de abrandamento das penalidades judiciais.
Tais medidas mostram o potencial explosivo da relação entre
um presidente eleito por uma pauta de ruptura com tal modelo e
a capacidade deste de reagir, inclusive se travestindo de oposição
legítima, ameaçando bloquear o exercício do governo eleito caso
este impeça a apropriação espúria do Estado federal por seus
interesses particularistas.
O imbroglio, que pode ser evitado pelo isolamento, no novo
Congresso, destes segmentos presentes na situação e na oposi-
ção, tende a se defrontar com uma situação inédita, extrema-
mente desvantajosa para a tradição derrotada: a de ter que enfren-
tar um Presidente que dispõe não apenas de apoio parlamentar
mas, sobretudo, de uma sociedade civil renovada à direita, com
potencial para expressar a vontade geral recém-saída das urnas,
além de uma ligação inédita e orgânica com as forças militares –
fortemente representadas no novo governo.
A possibilidade de embates radicais, verticais e horizontais,
não podendo ser descartada, deve culminar em algum pacto de
governabilidade que incluiria a reforma política em troca de
espaços de poder. Todavia, não se pode desprezar a ocorrência
de um impasse que force a reforma política por meio de referendo
ou plebiscito – cuja convocação é privativa do Congresso e
depende de maioria simples, presente mais da metade dos parla-
mentares – e, no interregno, abra caminho à governabilidade por
meio de outras medidas excepcionais com o apoio das bancadas
parlamentares, contra as lideranças da Câmara e do Senado, a
partir da pressão social.
A desarticulação de um eventual bloqueio espúrio da bancada
neopatrimonial, no Congresso, contra o Executivo, é decisivo não
A
democracia
na furna da onça
Oposição
ou resistência?
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