(Nova República, 1990-2018 1 ) – comprimia e arbitrava a disputa
política em prol de seus interesses vitais, como elite político-buro-
crática, e de suas conexões com as classes fundamentais (domi-
nantes e dominadas), de modo tal que nem as semirrupturas do
Estado Novo e da Contrarrevolução de 1964 foram capazes de
superá-la, em meio à conformação de novos blocos históricos,
depois de esgotados os instrumentos de subordinação explicita-
mente autoritária da sociedade civil ao Estado.
Desnecessário dizer que tal presidencialismo de cooptação, de
inspiração liberal, foi, desde sempre, responsável tanto pela manu-
tenção do déficit crônico de democracia e estabilidade ao longo da
República (vide A democratização do Estado), como de racionali-
dade burocrática – à exceção dos períodos de semirrupturas
mencionados –, visto seu compromisso figadal com os privilégios
corporativos encerrados em sua própria constituição de classe e o
modo como tendia, e tende, a traduzir o interesse como privilégio
– o posto do imperativo funcional de qualquer sociedade moderna.
Por isso, ela foi e segue sendo fator de instabilidade política,
não só por tirar proveito das distorções institucionais que dificul-
tam a representação política (vide Accountability e Reforma Polí-
tica), mas porque administra seu domínio do Estado e, através
dele, sobre a sociedade, por meio do uso abusivo de recursos
públicos (orçamentários e institucionais) – seja pela corrupção,
pelo desvio de função ou perversão das políticas públicas – que
produzem falsos consensos ao custo do desperdício do cresci-
mento econômico, obstaculizando o verdadeiro desenvolvimento.
Não foi por outro motivo que o modelo neopatrimonial de domi-
nação entrou em crise seguidamente quando diante de crises
recessivo-inflacionárias, levando a radicalizações políticas, como
em 1930 e 1964, quando a capacidade estatal de amortecimento
dos conflitos sociais, via cooptação, diminuiu drasticamente.
É precisamente isto que vivenciamos agora, com o colapso da
direção social-patrimonial sobre o bloco histórico (vide “Os peri-
gos que se avizinham e o antídoto” e “O Brasil que emerge das
urnas”), quando a brutal recessão do período petista (Dilma) se
encontra com o esgotamento ético e fiscal do modelo de inclusão
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Que se inaugura politicamente com a volta dos civis ao poder (Tancredo-Sarney)
em 1985, mas cuja expressão acabada é o bloco histórico liberal-financista inau-
gurado por Collor (1990-1992), e depois estabilizado por FHC (1995-2002) e
alargado por Lils (2003-2016).
Hamilton Garcia de Lima