Desfazer as confusões pd52 | Page 25

contra a ditadura no Brasil, aqueles que haviam aderido à luta armada, ao retornarem à luta política, formularam a “narrativa” da resistência com o intuito de legitimarem essa mudança sem, contudo, realizarem nenhuma autocrítica; hoje, como se vê, o PT prepara uma nova artimanha, evitando rever seu passado recente com rigor e a devida autocrítica. A perspectiva de “resistência” que o PT apresenta à oposição vive da expectativa de que o governo Bolsonaro fracasse rotunda- mente e quanto mais rápido, melhor. Lembra vivamente um retorno às origens e, com isso, uma vocação para o isolamento. O PT não compreende que o tempo não passou em vão, que a sociedade amadureceu e que as forças políticas já não se deixam enredar por artimanhas. Considerando os resultados eleitorais, a situação da esquerda é claramente defensiva e de recomposição. O antagonismo irredutível do PT é condenação ao isolamento. Claro está que o PT é um ator problemático para oferecer uma estratégia de oposição democrática ao governo Bolsonaro. Além da sua leitura obtusa da nova conjuntura política, o PT ainda se vê acorrentado à miragem da libertação de Lula e das fábulas (o golpe de 2016) que contaminam sua visão a respeito do que se passou no país desde 2013. O PT não reconhece que o partido e, em particular, o lulismo são vistos hoje pela sociedade como duas expressões consagradas da corrupção que o eleitorado condenou nessas eleições. É largamente reconhecido que o principal fator que deu a vitória ao representante do PSL foi o antipetismo, sem mencionarmos os milhões de desempregados que emergiram e cresceram assustadoramente desde o governo Dilma Rousseff. Uma oposição democrática não pode se deixar capturar pelo PT. Deve recusar a sua perspectiva irredutível, voltada unica- mente para recuperar seu “hegemonismo”. A oposição democrá- tica deve procurar ultrapassar o cenário de “terra arrasada” que o PT impôs pós-impeachment e buscar instituir um novo campo de articulação que oxigene a vida política e promova, dentre outras coisas, a renovação das lideranças políticas da democracia brasileira, bem como um aggiornamento do temário da própria oposição. Uma boa indicação para se ir por esse caminho pode-se encontrar no pertinente artigo de Vinicius Mota, “Nunca uma derrota foi tão promissora para a centro-esquerda”. (FSP, 02/11/18). Depois das oposição democrática Oposição ou eleições, resistência? 23