contra a ditadura no Brasil, aqueles que haviam aderido à luta
armada, ao retornarem à luta política, formularam a “narrativa”
da resistência com o intuito de legitimarem essa mudança sem,
contudo, realizarem nenhuma autocrítica; hoje, como se vê, o PT
prepara uma nova artimanha, evitando rever seu passado recente
com rigor e a devida autocrítica.
A perspectiva de “resistência” que o PT apresenta à oposição
vive da expectativa de que o governo Bolsonaro fracasse rotunda-
mente e quanto mais rápido, melhor. Lembra vivamente um
retorno às origens e, com isso, uma vocação para o isolamento.
O PT não compreende que o tempo não passou em vão, que a
sociedade amadureceu e que as forças políticas já não se deixam
enredar por artimanhas. Considerando os resultados eleitorais, a
situação da esquerda é claramente defensiva e de recomposição.
O antagonismo irredutível do PT é condenação ao isolamento.
Claro está que o PT é um ator problemático para oferecer uma
estratégia de oposição democrática ao governo Bolsonaro. Além
da sua leitura obtusa da nova conjuntura política, o PT ainda se
vê acorrentado à miragem da libertação de Lula e das fábulas (o
golpe de 2016) que contaminam sua visão a respeito do que se
passou no país desde 2013. O PT não reconhece que o partido e,
em particular, o lulismo são vistos hoje pela sociedade como duas
expressões consagradas da corrupção que o eleitorado condenou
nessas eleições. É largamente reconhecido que o principal fator
que deu a vitória ao representante do PSL foi o antipetismo, sem
mencionarmos os milhões de desempregados que emergiram e
cresceram assustadoramente desde o governo Dilma Rousseff.
Uma oposição democrática não pode se deixar capturar pelo
PT. Deve recusar a sua perspectiva irredutível, voltada unica-
mente para recuperar seu “hegemonismo”. A oposição democrá-
tica deve procurar ultrapassar o cenário de “terra arrasada” que
o PT impôs pós-impeachment e buscar instituir um novo campo
de articulação que oxigene a vida política e promova, dentre
outras coisas, a renovação das lideranças políticas da democracia
brasileira, bem como um aggiornamento do temário da própria
oposição. Uma boa indicação para se ir por esse caminho pode-se
encontrar no pertinente artigo de Vinicius Mota, “Nunca uma
derrota foi tão promissora para a centro-esquerda”. (FSP,
02/11/18).
Depois
das
oposição democrática
Oposição
ou eleições,
resistência?
23