que propriamente fascista. Tudo isso não é pouco para nos aler-
tar quanto aos riscos que corre a democracia. Contudo, a vitória
de Bolsonaro não deve ser vista como um retorno ou uma conde-
nação antecipada do país aos “anos de chumbo”.
Na montagem do governo, com uma reforma administrativa
em curso que reduz o número de Ministérios, o presidente eleito
parece visar mais a composição de um quadro de referência de
mudanças – no qual estão indicativos neoliberais, mas também
da democracia política –, do que a emulação de um líder que
prepara a instalação de um regime fascista ou de uma ditadura,
mesmo que seja de forma gradual. Será certamente um governo
de direita porque essencialmente apela à ordem de maneira amea-
çadora e quase brutal, pensa mudanças econômicas a partir da
régua neoliberal, com poucas ou nenhuma concessão de caráter
social, além de ser regressivo, restritivo e anacrônico nos planos
cultural e ambiental, sem falarmos no plano comunicacional, até
agora o mais tenebroso no seu comportamento.
Uma das tarefas essenciais da oposição democrática – que
precisa ainda ser construída e articulada – é a de agir para evitar
que o estilo (de um violentismo performático) e as inclinações
autoritárias do presidente eleito e do seu entorno se transformem
em regime político. Os atores políticos que se perfilam no campo
oposicionista terão uma árdua tarefa pela frente, em particular a
esquerda, que terá que se reconstruir, uma vez que a linguagem
da antipolítica que predominou nessas eleições a atingiu profun-
damente em suas lideranças, ideias e valores.
Derrotado nas eleições, o Partido dos Trabalhadores parece
não ver razões para alterar seu posicionamento, fixando-se numa
posição de antagonismo irredutível. A considerar o discurso de
Fernando Haddad, na noite em que se deram a conhecer os resul-
tados, o PT se mantém no interior da célebre divisão “nós versus
eles” instituída pelo partido desde os governos Lula. Para o
partido, a oposição a Bolsonaro deverá assumir a representação
política de uma “outra nação”, aquela que lhe rendeu 46 milhões
de votos, na qual a palavra-chave é a da “resistência” a uma espé-
cie de “governo de ocupação”, na infeliz expressão do Wanderley
Guilherme dos Santos.
Aqui abro um parêntesis: de fato, “resistência” é uma noção
cuja origem é a ocupação nazista na França e na Itália, que se
conformou num referente histórico para a esquerda; na luta
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Alberto Aggio