Desfazer as confusões pd52 | Page 23

Depois das eleições, oposição democrática Alberto Aggio J air Bolsonaro (PSL) venceu o segundo turno das eleições presidenciais com mais de 10 milhões de votos de diferença contra Fernando Haddad (PT). Não foi uma vitória esmaga- dora, mas foi incontestável e, sobretudo, legítima. Em janeiro de 2019, com a alternância democrática de poder, prevista na Cons- tituição, Bolsonaro assumirá o posto maior da República. Na democracia, a quem vence cabe a tarefa de governar; a quem perde, fazer oposição. A vitória eleitoral de Bolsonaro não significa a imposição de uma única força política ao país, numa visão simplista de alguns de seus apoiadores, segundo a qual o vencedor “leva tudo”. Os pilares da democracia brasileira, assen- tados na Constituição de 1988, continuam a dar os parâmetros para a nossa convivência política e social. Não há dúvida que essa vitória representa uma mudança polí- tica significativa na história recente do país. Fala-se do esgota- mento ou do final de um período da política brasileira e do advento de uma nova fase. Superando as forças políticas que lideraram a democratização, o presidente eleito traz novamente a direita ao poder, depois de décadas em que ela havia sido alijada, com o fim da ditadura militar. O resultado eleitoral, em seu conjunto, repre- sentou a condenação das oligarquias políticas que controlaram o poder, nos últimos anos, e o rechaço ao conluio entre a “coisa pública” e os interesses dos grandes grupos econômicos. A direita que se expressa por Bolsonaro não é a mesma dos idos de 1964 e nem poderia ser. Permanece nela, é verdade, um certo ranço e uma retórica anticomunista obtusa e anacrônica face ao fato de que o fim do “comunismo histórico” carrega quase 30 anos nas costas, não havendo nenhuma sinalização do seu reaparecimento ao redor do mundo. Nessa eleição, a direita emergiu travestida de um “populismo iliberal”, seguindo a vaga planetária, além de expressar inclinações reacionárias e autori- tárias. O novo presidente é um personagem, a um só tempo, pragmático e midiático – sem ser carismático –, que se utiliza mais de uma retórica instrumental de caráter pentecostal do Oposição ou resistência? 21