e resistência democrática na sociedade são coisas diferentes e
são, ambas, legítimas, quando não violam o Estado de direito.
4 – O fato do PT ter roubado a expressão ‘resistência democrá-
tica’ para deturpá-la não pode levar os democratas a abandona-
rem o conceito. Assim como o fato de legiões de jornalistas e
analistas políticos estarem neste momento se esforçando para
salvar Bolsonaro dele mesmo (e do bolsonarismo), não pode nos
levar a não ver a porcentagem imensa de wishful thinking contida
nesse esforço. Ambos se equivocam ao não fazerem a distinção
entre governo Bolsonaro (em princípio um bem público, como
qualquer governo que se mantém nos marcos da democracia) e
bolsonarismo (uma corrente de opinião maligna para a democra-
cia, mas que também não deve ser confundida com o conjunto
dos eleitores de Bolsonaro).
5 – Os bolsonaristas revelam que são majoritaristas quando
dizem que é um absurdo resistir a um presidente que o povo
escolheu. Os mais radicais dizem que se não se pode nem mesmo
fazer oposição a quem teve mais de 57 milhões de votos (curio-
samente, é o mesmo que diziam os lulopetistas que afirmavam
que o impeachment de Dilma era golpe, porque ela teve 54
milhões de votos). Ora, podemos, sim, fazer oposição a alguém
que foi eleito e podemos resistir às forças políticas que são
correias de transmissão de governos eleitos na sociedade. Recep
Erdogan foi eleito e os democratas devem fazer oposição ao seu
governo e resistir aos seus bate-paus na sociedade turca. Viktor
Orban foi eleito e os democratas devem fazer-lhe oposição e
resistir aos seus esbirros na sociedade húngara. Putin foi eleito
e os democratas devem fazer oposição e resistir ao governo de
assassinos da FSB (ex-KGB) que ele representa. Maduro foi
eleito, idem. Ortega foi eleito, idem-idem. O majoritarismo é
sempre uma perversão da democracia e, por isso, os democratas
devem resistir ao pensamento e à prática majoritarista.
6 – Os democratas, em qualquer circunstância, devem resistir
ao avanço do bolsonarismo na sociedade. Isso não significa tentar
inviabilizar ou desestabilizar o novo governo, como querem fazer os
lulopetistas (que não são democratas e sim, tal como os bolsonaris-
tas, i-liberais e majoritaristas). Os democratas também devem
resistir ao avanço do lulopetismo na sociedade. Os objetivos são
distintos, mas igualmente claros. A resistência ao bolsonarismo
tem como propósitos: 1) impedir que o bolsonarismo domine o
governo Bolsonaro e o transforme num governo autoritário;
Oposição ou resistência?
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