Oposição ou resistência?
As duas coisas, mas é preciso desfazer as confusões
Augusto de Franco
Vai aqui, resumida em sete pontos, mais uma tentativa de
desfazer as confusões.
1 – Um presidente autoritário (e avesso à democracia) não signi-
fica necessariamente um regime autoritário. Lula e Dilma eram
autoritários (à sua maneira, que era a de usar a democracia contra
a democracia), mas o Brasil não deixou de ser uma democracia
entre 2003 e 2016. Ou seja, mesmo que Bolsonaro e sua famiglia
sejam autoritários, não está dado que o regime vigente no Brasil a
partir de 2019 (e até não se sabe quando) será também autoritário
(no sentido preciso do termo ‘authoritarian regimes‘ definido pelo
Democracy Index da The Economist Intelligence Unit).
2 – O bolsonarismo, como corrente de opinião que floresce e
cresce na sociedade brasileira, é autoritário e francamente anti-
democrático. É anticomunista na vibe da guerra fria, macar-
thista, patrioteiro, religioso, moralista, detrator dos direitos
humanos e anacrônico. Mas o bolsonarismo não é a mesma coisa
que o futuro governo Bolsonaro. Assim como o lulopetismo mais
radical (marxista-leninista ou marxista-gramscista e neomaquia-
velista) não foi a mesma coisa que os governos Lula e Dilma, é
improvável que o governo Bolsonaro seja um governo francamente
(ou totalmente) bolsonarista. Se o governo Bolsonaro for a expres-
são completa do pensamento e da ação bolsonaristas, caminhare-
mos para uma teonomia militar totalitária – o que convenhamos,
as condições objetivas e subjetivas presentes no país e no cenário
internacional (ainda) não permitem.
3 – Caberá fazer oposição (como ocorre em qualquer democra-
cia, posto que sem oposição não há democracia), de caráter parti-
dário-parlamentar, ao governo Bolsonaro. Algumas oposições
serão construtivas e outras não, mas é assim mesmo que funciona
nas democracias: não cabe ao governo dizer qual tipo de oposição
é permitida ou qual tipo de oposição é legítima. Mas ao avanço do
bolsonarismo na sociedade, cabe resistir democraticamente (sem
violar as leis). Uma coisa não pode ser confundida com a outra.
Oposição partidário-parlamentar nas instituições da democracia
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