Desfazer as confusões pd52 | Page 181

2. A advocacia ou logografia como prática profissional remunerada Na Grécia, no século V. a.C, no período democrático, onde se tornaram comuns as postulações do povo perante os governos das Polis, surgiu a prática denominada por Protágoras (o maior dos sofistas) de logografia que consistia em produzir um discurso jurí- dico para um terceiro que o utilizaria em seu interesse na ágora (praça pública em assembleia) ou perante os juízes e tribunais. Foram os sofistas os primeiros professores e advogados ou logógra- fos, pois que aproveitaram o ambiente democrático ateniense para produzir discursos (logos) na forma oral ou sob grafia e, desse modo, atender aos clientes que pagavam alta remuneração pelo trabalho produzido. É conhecido o exemplo do sofista Hippias, um dos mais favorecidos com a logografia, ao ponto de tecer para ocasiões especiais uma vestimenta de fios de ouro, tão refinado era o seu bom gosto e a sua habilidade artesanal. Foi um dos primeiros pensadores a admitir a ideia de um direito natural de aplicação universal aos homens. Era comum na sociedade democrática, diante da igualdade formal dos cidadãos perante a lei (isonomia), e da igualdade material para reivindicar direitos na praça pública (isagoria) e até mesmo participar dos sorteios para preencher cargos públicos (isotimia), a prática dos sofistas de cobrar pelas aulas e pelos discursos cuidado- samente elaborados. Na Roma imperial, como observamos, havia algum pudor quando do exercício advocatício, o que se explicava porque as profissões não eram, como hoje, consideradas “um ganha pão” ou “um meio de vida”, mas uma arte, um oficio, reservados a alguns homens melhores, de origem nobre (aristós), que tinham pelo nascimento, pela estirpe, garantidos um futuro de bem estar e fartura. Poderiam, todavia, receber homenagens. 3. Sócrates, o virtuoso? Sofistas homens ímpios e venais? Outra explicação pertinente Platão registrou em seus Diálogos a relação de disputa e oposi- ção entre Sócrates (mestre da aristocracia vencida) sustentado por seus alunos que lhe forneciam casa, bens móveis e semoventes, crédito nos mercados e tudo o que o mestre ousasse solicitar, e que por tais motivos não cobrava por suas lições; e, de outro lado, os Sofistas que não tinham qualquer pejo em cobrar por suas aulas, que consideravam valorosas e úteis. É conhecida a provocação de Advocacia clássica e contemporânea 179