Desfazer as confusões pd52 | Page 18

derrotado, não apenas por Bolsonaro, mas pela história. Sem isso, chegará em 2022 outra vez sem propostas para o futuro ou dizendo que seu projeto é apenas ser contra o novo governo e contra o PT ao qual serviram até ontem. Se quiserem fazer oposição pelo bem do Brasil, esses partidos e líderes precisam começar a fazer oposição a si próprios: enten- der onde estão errando, há décadas, formular uma proposta para o futuro do Brasil, definir como dar coesão e rumo ao país e à sua sociedade, dividida socialmente e improdutiva economicamente. Dizer que este caminho é antagônico ao do PT e ao do Bolsonaro e, por isso, oposição aos dois; mas sobretudo com um programa a favor do futuro. Uma oposição consequente deve começar pela autocrítica de seus erros, reconhecendo não ter oferecido uma alternativa mais progressista e sintonizada com o espírito de nossos tempos, nem ter captado o apoio da população. Cada democrata-progressista deve fazer oposição ao que Bolsonaro representar de retrocesso, mas isso não basta: é preciso avançar dizendo que rumo oferecer para um Brasil eficiente, justo, sustentável, livre. A primeira autocrítica seria à política do compadrio de siglas com propósito eleitoreiro, como tentaram durante os meses que antecederam o último pleito e tentam agora olhando 2022. A segunda é entender que perderam sintonia com os rumos da história; perceber a força das revoluções que ocorreram nas últi- mas décadas: a globalização, o potencial e as amarras que ela provoca na economia nacional; a informática, a robotização e o desemprego estrutural consequente; os limites ecológicos ao cres- cimento; o aburguesamento dos movimentos sindicais e a miopia e oportunismo dos movimentos sociais; a importância da educa- ção de qualidade igual para todos como o vetor do progresso econômico e social. A terceira é perceber que não se constrói justiça social sobre economia ineficiente. Por isso, é preciso respeitar os limites orça- mentários, despolitizar as regras da economia, zelar pela estabi- lidade monetária, reconhecer o papel do livre-comércio e a neces- sidade de reformas que desamarrem o Brasil. A quarta é assumir e passar confiança no compromisso com a democracia, as instituições e as liberdades, com ética na política, 16 Cristovam Buarque