derrotado, não apenas por Bolsonaro, mas pela história. Sem
isso, chegará em 2022 outra vez sem propostas para o futuro ou
dizendo que seu projeto é apenas ser contra o novo governo e
contra o PT ao qual serviram até ontem.
Se quiserem fazer oposição pelo bem do Brasil, esses partidos
e líderes precisam começar a fazer oposição a si próprios: enten-
der onde estão errando, há décadas, formular uma proposta para
o futuro do Brasil, definir como dar coesão e rumo ao país e à sua
sociedade, dividida socialmente e improdutiva economicamente.
Dizer que este caminho é antagônico ao do PT e ao do Bolsonaro
e, por isso, oposição aos dois; mas sobretudo com um programa a
favor do futuro.
Uma oposição consequente deve começar pela autocrítica de
seus erros, reconhecendo não ter oferecido uma alternativa mais
progressista e sintonizada com o espírito de nossos tempos, nem
ter captado o apoio da população. Cada democrata-progressista
deve fazer oposição ao que Bolsonaro representar de retrocesso,
mas isso não basta: é preciso avançar dizendo que rumo oferecer
para um Brasil eficiente, justo, sustentável, livre.
A primeira autocrítica seria à política do compadrio de siglas
com propósito eleitoreiro, como tentaram durante os meses que
antecederam o último pleito e tentam agora olhando 2022.
A segunda é entender que perderam sintonia com os rumos da
história; perceber a força das revoluções que ocorreram nas últi-
mas décadas: a globalização, o potencial e as amarras que ela
provoca na economia nacional; a informática, a robotização e o
desemprego estrutural consequente; os limites ecológicos ao cres-
cimento; o aburguesamento dos movimentos sindicais e a miopia
e oportunismo dos movimentos sociais; a importância da educa-
ção de qualidade igual para todos como o vetor do progresso
econômico e social.
A terceira é perceber que não se constrói justiça social sobre
economia ineficiente. Por isso, é preciso respeitar os limites orça-
mentários, despolitizar as regras da economia, zelar pela estabi-
lidade monetária, reconhecer o papel do livre-comércio e a neces-
sidade de reformas que desamarrem o Brasil.
A quarta é assumir e passar confiança no compromisso com a
democracia, as instituições e as liberdades, com ética na política,
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Cristovam Buarque