[...] comigo vai tudo azul / Contigo vai tudo em paz / Vivemos
na melhor cidade / Da América do Sul / Da América do Sul.
Não tão azul assim. Logo, um manto de turva neblina cheia de
pecados desceu sobre esse lado de baixo do Equador. Caetano
Veloso foi preso, em São Paulo, 14 dias depois de o AI-5 entrar em
vigor. Com ele, também foi preso Gilberto Gil.
O Brasil de 1968 era um caldeirão. Mas ficaria pior. Em dezem-
bro, ao cair da tarde em uma sexta-feira, 13, o governo militar
editou o violento Ato Institucional número 5, o AI-5, instalando a
censura prévia na imprensa e acirrando a repressão a movimen-
tos de oposição. Para uns – os que acreditavam na retomada da
democracia –, uma surpresa; para outros, o desfecho de uma
morte anunciada.
O AI-5 foi o mais duro golpe “legal” do Regime Militar. Ele
empurrava o país para a sua noite mais escura e potencializava a
tortura, a clandestinidade e a guerrilha.
A cientista política Maria Celina D’Araujo afirma que esta “foi a
expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-
1985)”. 5
O acirramento da desigual correlação de forças entre Governo e
oposição estimulou o deputado Márcio Moreira Alves, na Câmara,
a fazer um discurso apelando para que o povo não fosse prestigiar
os desfiles militares do 7 de Setembro. Apelou também para que as
moças, “ardentes de liberdade”, não namorassem oficiais.
– “Quando o Exército não será um valhacouto de torturado-
res”? Vociferou da tribuna, o parlamentar do MDB do então estado
da Guanabara, no dia 2 de setembro de 1968.
O protesto fora motivado pelo fechamento da Universidade
Federal de Minas Gerais e a invasão da Universidade de Brasília,
dias antes, por policiais militares do Distrito Federal, com o
espancamento de estudantes. Nesse episódio, o deputado federal
José Martins Rodrigues partiu em defesa dos estudantes, colo-
cando-se como escudo entre estudantes e policiais.
5
Ver O AI-5, verbete de Maria Celina D’Araujo, disponível em: , do Centro de Pesquisa e Docu-
mentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getulio
Vargas.
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Luis-Sérgio Santos