Desfazer as confusões pd52 | Page 166

crianças são postas para trabalhar em tenra idade . A adolescência é eliminada . Em sociedades ainda mais antigas, não havia adoles- cência, mas cerimônias de iniciação que faziam a criança passar à categoria homem. Para Morin, 1968, com as revoltas estudantis, marca a irrup- ção, na vida política e social, de um novo tipo de classe que não é uma classe social, mas, digamos, uma bioclasse . É uma classe que tem caráter biológico e que, tornada autônoma, aspira a se libertar e mostra algumas de suas aspirações profundas, mais autonomia e, contraditoriamente, mais comunidade. O 1968 na França levou o status quo a nocaute. “De Gaulle faz 10 anos de governo sob marcha de protesto”, informava em manchete de primeira página o Jornal do Brasil, edição de 14 de maio de 1968: Protegido por um forte contingente policial, no Palácio Eliseu, o presidente Charles de Gaulle comemorou ontem o décimo aniversário de seu governo, em uma França semiparalisada por uma greve geral de trabalhadores em solidariedade aos estudantes. Quase meio milhão de operários, universitários, funcionários e líderes da oposição parlamentar desfilaram 9 horas seguidas pelas ruas de Paris, numa das mais amplas manifestações de protesto ocorridas no país, nos últimos anos. A marcante marcha de protesto partiu da margem direita do rio Sena e era conduzida por líderes como o socialista François Mitterrand e por Waldeck Rochet, do Partido Comunista Francês. A marcha atravessou quase todo o centro de Paris e terminou na Praça da República, na margem esquerda do rio Sena, onde os universitários prometiam continuar a luta até “a derrubada do sistema capitalista”. o0o Fatos marcantes alinhados, em uma sequência tipo efeito dominó, abalavam o mundo. O jornal inglês The Guardian considera que 1968 foi o ano que mudou os rumos da História: “Foi um ano de mudanças sociais e políticas sísmicas em todo o mundo”. O mundo nunca mais seria o mesmo. 164 Luis-Sérgio Santos