Desfazer as confusões pd52 | Page 164

Atribui-se a ascendência da estimulante “teoria crítica” da Escola de Frankfurt sobre a Academia Francesa uma indomável força motriz com doses generosas de adrenalina e criticismo ao confrontar o Estado normatizador e, anacronizado pela letargia do poder, opressor. Nos meses seguintes a 1968, Marcuse comemorava o fato de teorias apocalípticas se mostrarem erradas, porque, como demonstrou Maio de 1968, existiam os pontos de fuga: O efeito alienador da mercantilização poderia ser superado. No ano seguinte, ele escreveu: O que parece ser uma “politização” estranha da universidade ao perturbar os radicais é hoje (como tantas vezes no passado) a dinâmica “lógica” interna da educação: tradução do conheci- mento em realidade, de valores humanísticos em condições humanas de existência. O contexto deste ensaio de Marcuse, ainda sob o calor de 1968, era a estabilização e capilarização do “capitalismo corporativo”: A crescente oposição ao domínio global do capitalismo corpora- tivo é confrontada pelo poder sustentado desse domínio: sua ocupação econômica e militar nos quatro continentes, seu império neocolonial e, mais importante, sua capacidade inaba- lável de sujeitar a maioria da população subjacente a sua esmagadora produtividade e força. O fascínio de Marcuse sobre o fenômeno do março de 1968 na França marcou definitivamente sua obra posterior. De certo modo, a Paris que seduziu e abrigou outro frankfurtiano, o refugiado Walter Benjamin, anos atrás, exercia, noutro contexto, toda sua magia sobre Marcuse, testemunha ocular dos fatos. Outro leitor de 1968 é o filósofo francês Edgar Morin. Para ele, 1968 é uma revolta plurinacional, multinacional, de estudantes que acontece em países tão diferentes quanto os Esta- dos Unidos, a Alemanha, o Egito, a Polônia, e, de certo modo, no mundo todo vê-se, pois esse movimento estudantil, já nos anos 1960, na Califórnia, se manifestava por meio de uma cultura que viria a se chamar contracultura, tentativa dos jovens de fazer uma cultura diferente da do mundo em que viviam, criando comunidades . 4 4 Conferência de Edgar Morin no curso “Fronteiras do Pensamento”, em São Paulo, 2008. Um resumo está disponível na internet sob o título “1968-2008: o mundo 162 Luis-Sérgio Santos