Atribui-se a ascendência da estimulante “teoria crítica” da
Escola de Frankfurt sobre a Academia Francesa uma indomável
força motriz com doses generosas de adrenalina e criticismo ao
confrontar o Estado normatizador e, anacronizado pela letargia
do poder, opressor.
Nos meses seguintes a 1968, Marcuse comemorava o fato de
teorias apocalípticas se mostrarem erradas, porque, como
demonstrou Maio de 1968, existiam os pontos de fuga: O efeito
alienador da mercantilização poderia ser superado.
No ano seguinte, ele escreveu:
O que parece ser uma “politização” estranha da universidade ao
perturbar os radicais é hoje (como tantas vezes no passado) a
dinâmica “lógica” interna da educação: tradução do conheci-
mento em realidade, de valores humanísticos em condições
humanas de existência.
O contexto deste ensaio de Marcuse, ainda sob o calor de 1968,
era a estabilização e capilarização do “capitalismo corporativo”:
A crescente oposição ao domínio global do capitalismo corpora-
tivo é confrontada pelo poder sustentado desse domínio: sua
ocupação econômica e militar nos quatro continentes, seu
império neocolonial e, mais importante, sua capacidade inaba-
lável de sujeitar a maioria da população subjacente a sua
esmagadora produtividade e força.
O fascínio de Marcuse sobre o fenômeno do março de 1968 na
França marcou definitivamente sua obra posterior. De certo modo,
a Paris que seduziu e abrigou outro frankfurtiano, o refugiado
Walter Benjamin, anos atrás, exercia, noutro contexto, toda sua
magia sobre Marcuse, testemunha ocular dos fatos.
Outro leitor de 1968 é o filósofo francês Edgar Morin.
Para ele, 1968 é uma revolta plurinacional, multinacional, de
estudantes que acontece em países tão diferentes quanto os Esta-
dos Unidos, a Alemanha, o Egito, a Polônia, e, de certo modo, no
mundo todo vê-se, pois esse movimento estudantil, já nos anos 1960,
na Califórnia, se manifestava por meio de uma cultura que viria a se
chamar contracultura, tentativa dos jovens de fazer uma cultura
diferente da do mundo em que viviam, criando comunidades . 4
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Conferência de Edgar Morin no curso “Fronteiras do Pensamento”, em São Paulo,
2008. Um resumo está disponível na internet sob o título “1968-2008: o mundo
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Luis-Sérgio Santos