Desfazer as confusões pd52 | Page 163

o mundo. 2 A revista semanal Time (EUA) batizou-o como “O ano que formatou uma geração”. Outros títulos falam de “o ano trans- formador”, “1968: um ano de protesto, um ano de mudança” ou, ampliando o foco para a década de 1960, outros títulos preferem “uma era de grandes sonhos”, “a democracia está nas ruas”. Um dos intérpretes – e entusiasta – de 1968, Herbert Marcuse reafirmava que o desenvolvimento de uma verdadeira consciência ainda é a função profissional das universidades. De fato. Os acir- rados protestos estudantis em Paris consolidaram essa tese de Marcuse. Frankfurtiano seminal, ele ficou marcado como o inte- lectual de maio de 1968. É possível que as teses da “teoria crítica” da Escola de Frank- furt tenham sido um dos combustíveis para o maio de 1968, na França. Alguns acadêmicos defendem essa linha. Em verdade, os estudantes franceses estavam se voltando contra a dominação objeto da crítica de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer expressa no ensaio Dialektik der Aufklärung, de 1944. 9 Mas, certamente, esse foi somente mais um argumento. O mundo estava vivendo grandes crises políticas e o modelo econômico parecia se esgotar. A cultura quebrava paradigmas, em todas as artes. O Vietnam sangrava. Bob Kennedy assassi- nado. Martin Luther King assassinado. Os Beatles repetiam seus refrões e influenciavam toda a cultura ocidental. Woodstock, logo ali, em 1969, iria potencializar o “faça amor, não faça guerra”, numa extensão dos slogans das barricadas parisienses e em uma crítica naturalista à ameaça nuclear. Nesse contexto, o diagnóstico consistente e frenético dos dois filósofos alemães, desde há muito, vinha martelando a cabeça da juventude embebida nos bancos universitários. Adorno e Horkheimer mostravam que: Com o desenvolvimento do sistema econômico, no qual o domínio do aparelho econômico por grupos privados divide os homens, a autoconservação confirmada pela razão, que é o instinto objetua- lizado do indivíduo burguês, revelou-se como um poder destru- tivo da natureza, inseparável da autodestruição 3 . 2 3 Kurlansky, Mark. 1968. The Year That Rocked the World . New York (NY): Random House, 2005. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. 1968, o ano que mudou o mundo 161