o mundo. 2 A revista semanal Time (EUA) batizou-o como “O ano
que formatou uma geração”. Outros títulos falam de “o ano trans-
formador”, “1968: um ano de protesto, um ano de mudança” ou,
ampliando o foco para a década de 1960, outros títulos preferem
“uma era de grandes sonhos”, “a democracia está nas ruas”.
Um dos intérpretes – e entusiasta – de 1968, Herbert Marcuse
reafirmava que o desenvolvimento de uma verdadeira consciência
ainda é a função profissional das universidades. De fato. Os acir-
rados protestos estudantis em Paris consolidaram essa tese de
Marcuse. Frankfurtiano seminal, ele ficou marcado como o inte-
lectual de maio de 1968.
É possível que as teses da “teoria crítica” da Escola de Frank-
furt tenham sido um dos combustíveis para o maio de 1968, na
França. Alguns acadêmicos defendem essa linha. Em verdade, os
estudantes franceses estavam se voltando contra a dominação
objeto da crítica de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer expressa
no ensaio Dialektik der Aufklärung, de 1944. 9
Mas, certamente, esse foi somente mais um argumento.
O mundo estava vivendo grandes crises políticas e o modelo
econômico parecia se esgotar. A cultura quebrava paradigmas,
em todas as artes. O Vietnam sangrava. Bob Kennedy assassi-
nado. Martin Luther King assassinado. Os Beatles repetiam seus
refrões e influenciavam toda a cultura ocidental. Woodstock, logo
ali, em 1969, iria potencializar o “faça amor, não faça guerra”,
numa extensão dos slogans das barricadas parisienses e em uma
crítica naturalista à ameaça nuclear.
Nesse contexto, o diagnóstico consistente e frenético dos dois
filósofos alemães, desde há muito, vinha martelando a cabeça da
juventude embebida nos bancos universitários.
Adorno e Horkheimer mostravam que:
Com o desenvolvimento do sistema econômico, no qual o domínio
do aparelho econômico por grupos privados divide os homens, a
autoconservação confirmada pela razão, que é o instinto objetua-
lizado do indivíduo burguês, revelou-se como um poder destru-
tivo da natureza, inseparável da autodestruição 3 .
2
3
Kurlansky, Mark. 1968. The Year That Rocked the World . New York (NY): Random
House, 2005.
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
1968, o ano que mudou o mundo
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