a poderosa federação de sindicatos de trabalhadores chamou o
povo para uma greve geral.
Em uma conjuntura onde os meios de comunicação de massa
eram basicamente rádio, jornal e televisão – ainda com limitações
de transmissão internacional – imaginemos 1968, na França,
com uso de tecnologia da Internet e das nervosas redes sociais.
Mesmo naquele contexto, o movimento dos estudantes france-
ses influenciou países no mundo inteiro. Daniel Marc Cohn-Ben-
dit, franco-alemão, foi líder estudantil que ganhou expressão
mundial a partir das barricadas pelas ruas de Paris. Ele virou
uma das referências para jovens utopias nos bancos escolares.
Para Eric Hobsbawm:
Se houve um momento, nos anos de ouro posteriores a 1945, que
correspondeu ao levante mundial simultâneo com que os revolu-
cionários sonhavam após 1917, foi sem dúvida 1968, quando os
estudantes se rebelaram desde os EUA e o México, no Ocidente,
até a Polônia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, socialistas, em grande
parte estimulados pela extraordinária irrupção de maio de 1968,
em Paris, epicentro de um levante estudantil continental.
Ele lembra que 1968 encerrou a era do General de Gaulle, na
França, de presidentes democratas nos EUA, as esperanças de
comunismo liberal na Europa Central comunista e assinalou o
início de uma nova era na política mexicana – em decorrência do
massacre de estudantes de Tlatelolco com pelo menos 200 mortos.
Em 1968-69, uma onda varreu os três mundos, ou grande parte
deles, levada essencialmente pela nova força social dos
estudantes, cujos números se contavam agora às centenas de
milhares mesmo em países ocidentais de tamanho médio, e logo
se contariam aos milhões.
Se Hobsbawm captura a surpresa de todos ante o estopim
francês, Herbert Marcuse, não menos surpreso, expressa espe-
rança e vê uma luz no final do túnel se contrapondo à visão apoca-
líptica da dominação “capitalista corporativa”.
Mil novecentos e sessenta e oito foi um ano que mudou a Histó-
ria, atestam dezenas de publicações mundo afora que tem nessa
constatação o fio condutor da narrativa. Alguns, como Mark
Kurlansky (Random House, 2005) preferem 1968: o ano que abalou
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Luis-Sérgio Santos