Desfazer as confusões pd52 | Page 162

a poderosa federação de sindicatos de trabalhadores chamou o povo para uma greve geral. Em uma conjuntura onde os meios de comunicação de massa eram basicamente rádio, jornal e televisão – ainda com limitações de transmissão internacional – imaginemos 1968, na França, com uso de tecnologia da Internet e das nervosas redes sociais. Mesmo naquele contexto, o movimento dos estudantes france- ses influenciou países no mundo inteiro. Daniel Marc Cohn-Ben- dit, franco-alemão, foi líder estudantil que ganhou expressão mundial a partir das barricadas pelas ruas de Paris. Ele virou uma das referências para jovens utopias nos bancos escolares. Para Eric Hobsbawm: Se houve um momento, nos anos de ouro posteriores a 1945, que correspondeu ao levante mundial simultâneo com que os revolu- cionários sonhavam após 1917, foi sem dúvida 1968, quando os estudantes se rebelaram desde os EUA e o México, no Ocidente, até a Polônia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, socialistas, em grande parte estimulados pela extraordinária irrupção de maio de 1968, em Paris, epicentro de um levante estudantil continental. Ele lembra que 1968 encerrou a era do General de Gaulle, na França, de presidentes democratas nos EUA, as esperanças de comunismo liberal na Europa Central comunista e assinalou o início de uma nova era na política mexicana – em decorrência do massacre de estudantes de Tlatelolco com pelo menos 200 mortos. Em 1968-69, uma onda varreu os três mundos, ou grande parte deles, levada essencialmente pela nova força social dos estudantes, cujos números se contavam agora às centenas de milhares mesmo em países ocidentais de tamanho médio, e logo se contariam aos milhões. Se Hobsbawm captura a surpresa de todos ante o estopim francês, Herbert Marcuse, não menos surpreso, expressa espe- rança e vê uma luz no final do túnel se contrapondo à visão apoca- líptica da dominação “capitalista corporativa”. Mil novecentos e sessenta e oito foi um ano que mudou a Histó- ria, atestam dezenas de publicações mundo afora que tem nessa constatação o fio condutor da narrativa. Alguns, como Mark Kurlansky (Random House, 2005) preferem 1968: o ano que abalou 160 Luis-Sérgio Santos