Desfazer as confusões pd52 | Page 161

EUA? Foi por isso que a súbita e quase mundial explosão de radicalismo estudantil em 1968 e por volta dessa data pegou tão de surpresa os políticos e os intelectuais mais velhos. 1 Houve uma “mudança no estado de espírito dos trabalhado- res” quando as empresas empreenderam ações para conter os salários reais em decorrência de uma “explosão mundial de salá- rios”, no fim da década de 1960. Diz Eric Hobsbawm: Uma vez que era diretamente relevante para o modo como a economia funcionava, a mudança no estado de espírito dos trabalhadores teve muito mais peso que a grande explosão de agitação estudantil em 1968 e por volta dessa data, embora os estudantes oferecessem material mais sensacional para os meios de comunicação e muito mais alimento para os comen- taristas. A rebelião estudantil foi um fenômeno fora da econo- mia e da política. [...] serviu como aviso, uma espécie de ‘memento mori’ a uma geração que em parte acreditava ter solucionado para sempre os problemas da sociedade ocidental. [...] Portanto, 1968 não foi nem um fim, nem um princípio, mas apenas um sinal. [...] Somente na década de 1960 se tornou inegável que os estu- dantes tinham constituído, social e politicamente, uma força muito mais importante do que jamais havia sido, pois em 1968 as explosões de radicalismo estudantil em todo o mundo fala- ram mais alto que as estatísticas. A onda de protestos na França colocou nas ruas 9 milhões de pessoas, teve seu estopim nas manifestações estudantis por refor- mas na política de educação. O movimento ganhou tanto apoio social que colocou em xeque o governo do presidente Charles de Gaulle. Enfraquecido, este renunciou meses depois. O próprio Estado francês não soube lidar com a situação e acreditava que o uso da força da repressão policial era o antídoto para frear os protestos. A violência da repressão policial foi tão brutal que só conseguiu ampliar o impacto social das manifesta- ções: o Partido Comunista Francês se enfileirou aos estudantes e 1 HOBSBAWM, Eric J. (1917-2012). Era dos extremos: o breve século XX (1914- 1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 1968, o ano que mudou o mundo 159