EUA? Foi por isso que a súbita e quase mundial explosão de
radicalismo estudantil em 1968 e por volta dessa data pegou tão
de surpresa os políticos e os intelectuais mais velhos. 1
Houve uma “mudança no estado de espírito dos trabalhado-
res” quando as empresas empreenderam ações para conter os
salários reais em decorrência de uma “explosão mundial de salá-
rios”, no fim da década de 1960.
Diz Eric Hobsbawm:
Uma vez que era diretamente relevante para o modo como a
economia funcionava, a mudança no estado de espírito dos
trabalhadores teve muito mais peso que a grande explosão de
agitação estudantil em 1968 e por volta dessa data, embora os
estudantes oferecessem material mais sensacional para os
meios de comunicação e muito mais alimento para os comen-
taristas. A rebelião estudantil foi um fenômeno fora da econo-
mia e da política.
[...] serviu como aviso, uma espécie de ‘memento mori’ a uma
geração que em parte acreditava ter solucionado para sempre os
problemas da sociedade ocidental.
[...] Portanto, 1968 não foi nem um fim, nem um princípio, mas
apenas um sinal.
[...] Somente na década de 1960 se tornou inegável que os estu-
dantes tinham constituído, social e politicamente, uma força
muito mais importante do que jamais havia sido, pois em 1968
as explosões de radicalismo estudantil em todo o mundo fala-
ram mais alto que as estatísticas.
A onda de protestos na França colocou nas ruas 9 milhões de
pessoas, teve seu estopim nas manifestações estudantis por refor-
mas na política de educação. O movimento ganhou tanto apoio
social que colocou em xeque o governo do presidente Charles de
Gaulle. Enfraquecido, este renunciou meses depois.
O próprio Estado francês não soube lidar com a situação e
acreditava que o uso da força da repressão policial era o antídoto
para frear os protestos. A violência da repressão policial foi tão
brutal que só conseguiu ampliar o impacto social das manifesta-
ções: o Partido Comunista Francês se enfileirou aos estudantes e
1
HOBSBAWM, Eric J. (1917-2012). Era dos extremos: o breve século XX (1914-
1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
1968, o ano que mudou o mundo
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