Desfazer as confusões pd52 | Page 160

A comunicação do movimento eram os pôsteres impressos em serigrafia, as pichações, faixas e cartazes de mão… E os coquetéis molotov. Era um movimento de manada conduzido pelo espírito da ruptura. Havia, também, uma grande confusão sobre o que de fato era e o que viria a ser. O conteúdo desses dois slogans são exem- plares, nesse sentido: Não há pensamento revolucionário, apenas ações revolucionárias – que faria tremer os ideólogos da “revolução” – e, esse mais terrível, Eu tenho algo a dizer, mas não sei o quê. A greve geral de maio de 1968, na França, ganhou ares de revo- lução, principalmente, porque foi potencializada pela greve dos estudantes secundaristas e universitários. Na verdade, acendia-se ali um pavio que se espraiaria pela Europa e pelas Américas. “Dez mil estudantes franceses lutam contra dois mil policiais”, abre o Jornal do Brasil em manchete de primeira página, na sua edição de 7 de maio de 1968. Os protestos contra o fechamento da Universidade Sorbonne e a prisão de estudantes provocaram uma violência sem preceden- tes na história das manifestações de rua em Paris quando 10 mil estudantes e professores, no Quartier Latin, enfrentaram 2.000 policiais, até altas horas. Paralelepípedos e pequenos objetos de toda ordem, inclusive latas de lixo, eram as armas de estudantes e professores. Nem os carros-tanques nem as bombas de gás lacrimogêneo conseguiram deter os manifestantes. O próprio chefe de polícia de Paris decla- rou à imprensa, admitindo nunca ter visto tanta violência. Era só o começo de um movimento que mudou o mundo. Um dos líderes do movimento, o alemão naturalizado francês Daniel Cohn-Bendit, aluno da Universidade de Nanterre, a 32 quilômetros de Paris, exercia um claro fascínio sobre as pessoas: ele estava sempre sorrindo, ao contrário dos seus colegas. Em Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, o autor Eric Hobsbawm demonstra porque o radicalismo estudantil em 1968 pegou todo mundo de surpresa: [...] a política das “economias de mercado desenvolvidas” parecia tranquila, senão sonolenta. Que havia de excitante, a não ser o Comunismo, os perigos de guerra nuclear e as crises internas que as atividades imperiais no exterior traziam, como a aven- tura de Suez de 1956, na Grã-Bretanha; a Guerra da Argélia, na França (1954-61); e, depois de 1965, a Guerra do Vietnã, nos 158 Luis-Sérgio Santos