programas de cooperação agrícola transfronteiriços e estabelecer a
oficina de enlace intercoreana. Além disso, a Coreia do Sul se
comprometeu a retirar dez postos de guarda da zona desmilitari-
zada para promover a paz, a retomar a comunicação militar e se
está negociando a reabertura do complexo industrial Gaesong,
assim como a possibilidade de que os legisladores sulcoreanos
participem da próxima cúpula. Todos estes avanços foram acom-
panhados pela participação conjunta em eventos esportivos sob a
flamante bandeira da unificação.
Reunidos apenas em um momento
Uma das marcas mais dolorosas da divisão da península é a
separação de famílias que afetou a milhares e milhares de corea-
nos. A maioria perdeu contato com seus parentes diretos durante
o início da guerra em 1950. O deslocamento da população produ-
zido pela própria dinâmica do conflito bélico e a posterior concen-
tração da guerra em torno do paralelo 38 provaram que muitas
pessoas que se haviam deslocado para o Sul com a intenção de
voltar ao Norte, a fim de buscar a sua família, nunca puderam
concretizar seu plano.
A assinatura do armistício, no dia 27 de julho de 1953, pôs fim
às hostilidades, determinando uma franja de demarcação militar em
que se estabeleceu a zona desmilitarizada que, obviamente, está tão
militarizada e vigiada que impossibilitou a passagem de pessoas, de
um lado a outro da fronteira, como havia ocorrido esporadicamente
antes da guerra. A trégua de paz, ademais, constituiu o fim dos
contatos entre os membros das famílias separadas a quem se lhes
bloqueou e proibiu manter laços com seus parentes.
A gravidade desta situação fez com que o problema das famí-
lias separadas estivesse presente desde os primeiros contatos
entre as Coreias, no início dos anos 70, quando a Cruz Vermelha,
sem êxito, tentou negociar o encontro de famílias. A partir da
década de 80, iniciaram-se campanhas nos meios de comunica-
ção na Coreia do Sul e nas comunidades coreanas dos Estados
Unidos e Canadá. Naquela época, os jovens militantes sul-corea-
nos, que lutavam pela democratização do país tinham entre suas
principais consignas políticas a unificação, a libertação dos
prisioneiros norte-coreanos no Sul e o encontro de famílias sepa-
radas pela guerra. Apesar dos múltiplos pedidos, da criação de
uma associação de famílias divididas e das ilusões geradas com o
restabelecimento de contatos entre familiares separados de
As
duas Coreias: um cruel legado da guerra fria
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