Sintonia com o povo e o futuro
Cristovam Buarque
A razão do eleitor
A eleição de 2018 foi mais de rejeição aos perdedores do que de
apoio aos vencedores. Não venceu quem captou mais votos “sim”
a seu favor, mas quem jogou mais votos “não” contra seus adver-
sários. Por isso, dificilmente o novo governo vai representar um
rumo para o Brasil sintonizar-se com o “espírito do tempo” da
história moderna e com os caminhos que ela indica para a civili-
zação. Tudo indica que será um governo do presente, não para o
futuro; fiel ao “não” aos outros, sem firmeza no “sim” ao Brasil.
Isso leva ao pessimismo sobre o governo Bolsonaro, tanto no risco
de substituir o populismo de esquerda por populismo de direita,
quanto por deixar o Brasil mais uma vez prisioneiro dos proble-
mas do presente – violência; crime; corrupção; déficit fiscal; gigan-
tismo do Estado – sem enfrentar os desafios para as necessidades
do futuro – ciência e tecnologia; competitividade; inovatividade;
aumento da produtividade; superação da pobreza; sobretudo, o
principal vetor para a construção do futuro: educação de quali-
dade para todos, os filhos dos pobres em escola com a mesma
qualidade dos filhos dos ricos.
Se é lamentável estarmos entrando em um período de quatro
anos sem esperança nas mudanças que permitiriam sintonizar
os rumos do Brasil com os rumos previsíveis do mundo, é lamen-
tável também lembrar que as forças políticas derrotadas estive-
ram duas décadas no poder e não satisfizeram o eleitor, nem
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