da Pensilvânia que, não faz muito tempo, chamou jogadores
negros de futebol estadunidense de “babuínos”.
Até fins do século XIX, o antissemitismo se apresentava em
termos religiosos: os judeus haviam matado o Salvador Jesus
Cristo, usavam o sangue das crianças cristãs para fazer matzá
para suas festas de Pésaj (páscoa judaica) etc. Mas isto mudou
com o surgimento de teorias raciais pseudocientíficas: enquanto
se traçaram distinções biológicas entre os judeus e os “ários”, já
não houve forma de escapar da trampa (trapaça) racista.
Um tema recorrente entre as pessoas que creem que os muçul-
manos são uma ameaça à civilização ocidental é a negativa em
reconhecer o Islam como uma fé religiosa; o consideram como
uma cultura, declarada por eles como incompatível com os “valo-
res ocidentais”. Precisamente o mesmo que se disse, muitas vezes,
a respeito da “cultura” judia, no passado.
Embora pessoas de extração muçulmana sejam muito distin-
tas e vindas de muitos países (tal como os judeus), a hostilidade
ao Islam pode ainda ser uma forma de racismo. Quem tem relação
com ele, por prática ou por nascimento, são elementos estranhos
que há que expulsar.
E este tipo de intolerância não se detém nos muçulmanos.
Duvido que as multidões que, em Chemnitz, saíram a caçar a
qualquer pessoa de aparência vagamente não europeia pensaram
muito em questões de fé ou cultura. A consigna da multidão voci-
ferante foi “Alemanha para os alemães, fora estrangeiros!”.
Os neonazistas, em Charlottesville, celebraram a cultura
sulista, exibindo símbolos da velha Confederação e atacando a
negros (a razão de ser da Confederação era proteger a supremacia
branca). Disso se tratava nas manifestações. Mas os participan-
tes também gritavam “os judeus não nos substituirão!”.
Estes sentimentos sempre estiveram nas margens das socie-
dades ocidentais, especialmente nos Estados Unidos, onde a
supremacia branca tem uma imensa e tortuosa história. Ocorre,
muitas vezes, que políticos de direita insinuam compartilhar
esses preconceitos, para obter mais votos. Mas quando Trump
declarou que as multidões em Charlottesville incluíam “algumas
pessoas muito boas” e chamou “violadores” aos imigrantes mexi-
canos, pôs o racismo no centro da cena política.
(Revista Nueva Sociedad, nº 272, Buenos Aires)
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Ian Buruma