ram que o status se lhes escapava. Donald Trump explorou seus
sentimentos de ansiedade e ressentimento.
Muitos alemães do Este, habituados desde pequenos ao auto-
ritarismo e sem capacidade ou vontade para aproveitar as oportu-
nidades educativas e de emprego de uma Alemanha unificada,
agora se voltam aos demagogos de ultradireita que culpam de
todos seus problemas os imigrantes e refugiados, especialmente
aos procedentes de países muçulmanos.
O temor da perda de status, que aflige os brancos de todo o
Ocidente, se agrava talvez pela ascensão do poder chinês e a sensa-
ção de que a Europa e os Estados Unidos estão perdendo sua supre-
macia global. É possível que seja isto o que Trump quis dizer quando
declarou, em Varsóvia, no ano passado: “A pergunta fundamental do
nosso tempo é se o Ocidente está com vontade de sobreviver”.
Esta pergunta coloca outra: o que entende Trump por
“Ocidente” e se uma defesa do Ocidente tem de ser necessaria-
mente racista. Houve um tempo, no início do século XX, em que
os inimigos do Ocidente (muitos deles na Alemanha) o definiam
como liberalismo anglo-franco-estadunidense. Aos nacionalistas
de direita, também muitos deles alemães, lhes gostava descrever
Londres e Nova York como cidades “judeizadas”.
Segundo esta visão, as sociedades liberais eram governadas
pelo dinheiro ao invés das prerrogativas da terra e do sangue.
O filósofo húngaro-britânico Aurel Kolnai escreveu, na década de
1930, um livro famoso intitulado A guerra contra o Ocidente; refe-
ria-se ele à guerra dos nazistas contra as democracias ocidentais.
Mas assim como agora os populistas holandeses e escandina-
vos usam os direitos dos homossexuais e o feminismo como armas
simbólicas para atacar o Islam, os líderes de direita adotaram o
“Ocidente” como algo que é preciso proteger das hordas muçul-
manas. Esses líderes gostam de falar do “Ocidente judeu-cristão”,
o que unido a seu entusiasmo pelos governos de direita em Israel
os protege contra acusações de antiassemitismo, tradicional-
mente vinculado com a ultradireita.
Separar na xenofobia os argumentos racistas dos culturais ou
religiosos pode ser difícil. Não é comum que os políticos deem
mostras de racismo tão francas como a de um jovem e prometedor
político holandês chamado Thierry Baudet que, antes da eleição
do ano passado, advertiu contra a “diluição homeopática do povo
holandês” pelos estrangeiros. Ou como a funcionária republicana
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