Desfazer as confusões pd52 | Page 147

ram que o status se lhes escapava. Donald Trump explorou seus sentimentos de ansiedade e ressentimento. Muitos alemães do Este, habituados desde pequenos ao auto- ritarismo e sem capacidade ou vontade para aproveitar as oportu- nidades educativas e de emprego de uma Alemanha unificada, agora se voltam aos demagogos de ultradireita que culpam de todos seus problemas os imigrantes e refugiados, especialmente aos procedentes de países muçulmanos. O temor da perda de status, que aflige os brancos de todo o Ocidente, se agrava talvez pela ascensão do poder chinês e a sensa- ção de que a Europa e os Estados Unidos estão perdendo sua supre- macia global. É possível que seja isto o que Trump quis dizer quando declarou, em Varsóvia, no ano passado: “A pergunta fundamental do nosso tempo é se o Ocidente está com vontade de sobreviver”. Esta pergunta coloca outra: o que entende Trump por “Ocidente” e se uma defesa do Ocidente tem de ser necessaria- mente racista. Houve um tempo, no início do século XX, em que os inimigos do Ocidente (muitos deles na Alemanha) o definiam como liberalismo anglo-franco-estadunidense. Aos nacionalistas de direita, também muitos deles alemães, lhes gostava descrever Londres e Nova York como cidades “judeizadas”. Segundo esta visão, as sociedades liberais eram governadas pelo dinheiro ao invés das prerrogativas da terra e do sangue. O filósofo húngaro-britânico Aurel Kolnai escreveu, na década de 1930, um livro famoso intitulado A guerra contra o Ocidente; refe- ria-se ele à guerra dos nazistas contra as democracias ocidentais. Mas assim como agora os populistas holandeses e escandina- vos usam os direitos dos homossexuais e o feminismo como armas simbólicas para atacar o Islam, os líderes de direita adotaram o “Ocidente” como algo que é preciso proteger das hordas muçul- manas. Esses líderes gostam de falar do “Ocidente judeu-cristão”, o que unido a seu entusiasmo pelos governos de direita em Israel os protege contra acusações de antiassemitismo, tradicional- mente vinculado com a ultradireita. Separar na xenofobia os argumentos racistas dos culturais ou religiosos pode ser difícil. Não é comum que os políticos deem mostras de racismo tão francas como a de um jovem e prometedor político holandês chamado Thierry Baudet que, antes da eleição do ano passado, advertiu contra a “diluição homeopática do povo holandês” pelos estrangeiros. Ou como a funcionária republicana 144