Desfazer as confusões pd52 | Page 132

podem ser executados se qualificados como terroristas pelo Depar- tamento de Estado e pela Agência Central de Inteligência (CIA). A situação que mais chamou a atenção foi a de Anwar Al- Aulaqi, um clérigo nascido no Novo México que detinha cida- dania dos EUA e do Iêmen, e tinha se tornado um líder da Al-Qaeda nesse país da Península Arábica. Em 2010, o pai de Anwar, Nasser, depois de cientificado de que a target killing do seu filho havia sido autorizada pelo governo Obama, ajuizou uma ação declaratória perante a Corte Federal do Distrito de Colúmbia. Na ação, ele postulou a concessão de uma liminar que impedisse o governo americano de executar o seu filho, salvo se Anwar se “apresen- tasse como uma concreta, específica e iminente ameaça à vida ou à segurança física, e não existissem meios outros, salvo a força letal, que poderiam ser razoavelmente empregados para neutrali- zar a ameaça”. A Corte, no entanto, extinguiu o processo sem julgamento de mérito, por reconhecer que (a) Nasser Al-Aulaqi não tinha legitimidade para ajuizar a ação defendendo interesses do filho; bem como por considerar que, (b) para conceder a ordem liminar pleiteada, a Corte teria que decidir se as atividades terro- ristas de Anwar e, em consequência, da Al-Qaeda, representavam uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos, o que, por caracterizar uma “questão política”, não passível de judiciali- zação, exorbitava as funções do Poder Judiciário americano. Anwar Al-Aulaqi acabou morto por um tiro disparado por um drone, em 30 de setembro de 2011. Ele é tido como sendo “o primeiro cidadão americano a ser caçado e assassinado sem julgamento pelo seu próprio governo desde a guerra civil”. Por óbvio, o direito da guerra não é equivalente ao direito criminal interno vigente, seja em âmbito federal ou nos estados americanos. O ato de matar alguém preventivamente, sem devido processo, salvo em situações de guerra, é considerado inconstitu- cional, ainda que efetuado por forças policiais. A execução de uma sentença de pena de morte pressupõe uma condenação judi- cial. A Quinta Emenda à Constituição dos EUA, aplicável à União, é clara ao dispor que “nenhuma pessoa será […] privada da sua vida, liberdade ou propriedade, sem o devido processo legal”. A Décima Quarta Emenda, que contém previsão semelhante, é aplicada aos estados. Apesar de o Senado americano ter consta- tado que o país, no passado, já participou de operações destina- das a eliminar civis e líderes estrangeiros, a edição de duas 130 Flávio Jardim