Desfazer as confusões pd52 | Page 129

Apesar de montado em um tripé difícil de ser mantido – milita- res, evangélicos e outros – e com uma equipe marcada pelo despre- paro, o governo Bolsonaro poderá proporcionar mudanças significa- tivas no regime político e no Estado, e não necessariamente negativas, ademais dos retrocessos já anunciados, particularmente nas politi- cas social e ambiental. Contudo, ele e sua equipe serão incapazes de fazer as mudanças que os tempos exigem, mudanças radicais na forma de governar. Farão remendos, alguns de pura pirotecnia. A vitória eleitoral de Bolsonaro e a sua presença no Governo Central podem propiciar uma ocasião especial para refazer as forças ditas progressistas e democráticas. Porém, com uma única condição: que se despreguem das ideias do passado, das formas antigas de representação, dos procedimentos formais e gastos de governar. Sintonizados não com as corporações e segmentos privi- legiados, mas com a maioria dos subalternos. Que se oponham às “desigualdades democráticas”, em que o trabalhador formal tem ticket refeição, auxílio-creche e vale-transporte, e o desempregado não tem nada. Nem os trabalhadores informais. Parem, portanto, de refletir apenas os interesses das corporações médias e altas que controlam o Estado, que vão do capital à elite operária, passando pelos servidores de altos escalões. A democracia praticada no século XX está morrendo. Os direi- tos que definimos no século XIX estão desaparecendo. É preciso saber quais os novos direitos, e quais as novas formas de governar. Formas casadas com a cultura da simplicidade e da austeridade, elementos indispensáveis na construção de uma sociedade saudá- vel. O mundo não pode ser sustentável com tantas parafernálias governamentais. Com sistemas decisórios inócuos. Com partidos como puro meio de ganhar a vida e se enriquecer. Os partidos ditos de esquerda envelheceram, foram sucumbidos por ideias antigas, ultrapassadas e afogadas pelo apego aos feitos do passado. Tiveram a oportunidade da mudança e jogaram no lixo. Trocaram um projeto de nação por um projeto de poder. O desafio é entender as mudanças que ocorrem no mundo, e não apenas no mundo tecnológico, mas também no mundo social, político e cultu- ral. O desafio é ousar “pensar fora da caixinha”, pensar o impensá- vel. Sem isso não há renovação, mas simples repetição, na linha do velho Lampedusa, “algo tem que mudar para que continue tudo como antes”. Foi o que fez Lula e promete fazer Bolsonaro. A democracia tem futuro? 127