empresariais. Nelas, associadas a institutos de pesquisa, estarão o
locus direcional, ou seja, aquele que dá direção à sociedade. A polí-
tica persiste, mas com nova configuração e valor, entranhada e
subalternizada à inovação tecnológica.
Neste espaço de futuro – que é apenas uma hipótese, pois outras
existem e coexistem – como se enquadra a forma de governo que
inventamos entre os séculos XVIII e XIX? O mínimo que se pode
afirmar é que a forma democrática de governo está ameaçada, pois
não se sabe se ela persistirá, e de que forma.
Temos um apego extraordinário à democracia, à ideia de igual-
dade e de direitos humanos, como se fossem “coisas” eternas,
esquecendo que são invenções sociais recentes. Têm pouco mais de
um século, e já são contestadas. Às vezes, de forma direta, como
fizeram o nazismo e o stalinismo, mas por vezes de forma indireta,
como fazem hoje a China e outros países asiáticos com grande
desempenho econômico. Esquecemos que a democracia plena
existe apenas em 20 países dentre os quase 200 que há no mundo.
Além dos 20, há apenas 59 países que são classificados como
democracias imperfeitas, restritas. O restante, mais de uma
centena, é composto de regimes híbridos ou claramente autoritá-
rios. A expansão de regimes democráticos, que começou no mundo
nos anos 1980, se arrefeceu nos anos 2010, e começaram a entrar
em declínio na presente década.
Por outro lado, as democracias perfeitas, ou imperfeitas, sofrem
um grande desgaste, com contestações populares e eleição de
forças políticas pouco democráticas, como é o caso do Brasil, dos
Estados Unidos, entre outros países.
Desta forma, temos a junção de duas forças que nos obriga a
repensar o melhor regime de governo. De um lado, as inovações
tecnológicas que tornam obsoletas muitas de nossas práticas polí-
ticas – Trump e Bolsonaro são dois ícones destas mudanças. De
outro lado, o cansaço da população com eleições, partidos, parla-
mentos e políticos que não lhes dizem respeito, não respondem as
suas demandas. Carcaças que sobrevivem inercialmente.
O momento não é de carpir, maldizer ou lamentar, mas de rein-
ventar um regime político que consiga conciliar os méritos da
democracia – liberdades de organização e expressão – com os
anseios populares de efetividade das instituições governamentais,
pois disso é que se trata em última instância. Efetividade na obten-
ção da segurança individual, no acesso a bens essenciais como
A democracia tem futuro?
125