Desfazer as confusões pd52 | Page 127

empresariais. Nelas, associadas a institutos de pesquisa, estarão o locus direcional, ou seja, aquele que dá direção à sociedade. A polí- tica persiste, mas com nova configuração e valor, entranhada e subalternizada à inovação tecnológica. Neste espaço de futuro – que é apenas uma hipótese, pois outras existem e coexistem – como se enquadra a forma de governo que inventamos entre os séculos XVIII e XIX? O mínimo que se pode afirmar é que a forma democrática de governo está ameaçada, pois não se sabe se ela persistirá, e de que forma. Temos um apego extraordinário à democracia, à ideia de igual- dade e de direitos humanos, como se fossem “coisas” eternas, esquecendo que são invenções sociais recentes. Têm pouco mais de um século, e já são contestadas. Às vezes, de forma direta, como fizeram o nazismo e o stalinismo, mas por vezes de forma indireta, como fazem hoje a China e outros países asiáticos com grande desempenho econômico. Esquecemos que a democracia plena existe apenas em 20 países dentre os quase 200 que há no mundo. Além dos 20, há apenas 59 países que são classificados como democracias imperfeitas, restritas. O restante, mais de uma centena, é composto de regimes híbridos ou claramente autoritá- rios. A expansão de regimes democráticos, que começou no mundo nos anos 1980, se arrefeceu nos anos 2010, e começaram a entrar em declínio na presente década. Por outro lado, as democracias perfeitas, ou imperfeitas, sofrem um grande desgaste, com contestações populares e eleição de forças políticas pouco democráticas, como é o caso do Brasil, dos Estados Unidos, entre outros países. Desta forma, temos a junção de duas forças que nos obriga a repensar o melhor regime de governo. De um lado, as inovações tecnológicas que tornam obsoletas muitas de nossas práticas polí- ticas – Trump e Bolsonaro são dois ícones destas mudanças. De outro lado, o cansaço da população com eleições, partidos, parla- mentos e políticos que não lhes dizem respeito, não respondem as suas demandas. Carcaças que sobrevivem inercialmente. O momento não é de carpir, maldizer ou lamentar, mas de rein- ventar um regime político que consiga conciliar os méritos da democracia – liberdades de organização e expressão – com os anseios populares de efetividade das instituições governamentais, pois disso é que se trata em última instância. Efetividade na obten- ção da segurança individual, no acesso a bens essenciais como A democracia tem futuro? 125