O desafio da prospecção é maior quando as transformações
ganham velocidade, como tem ocorrido nos últimos 25 anos. Novas
tecnologias nascem e se disseminam, a cada dia, assim como novas
empresas e novos negócios. Nosso estilo de vida muda sem nos
darmos conta, e nosso cotidiano assume novas configurações como
se fossem naturais. Ingressamos na era da informação e não temos
clareza do que ela é; baseada no tratamento, estocagem e trans-
missão de informações em volumes que crescem exponencialmente.
Há discos rígidos de laptops hoje na base de um terabyte, ou seja,
2,5 milhões de vezes mais potentes do que há 25 anos. Não há
nada similar em eras pretéritas. Nada mudou tanto as nossas vidas
do que a internet, que imaginamos ser uma, mas são quatro: a que
conhecemos, a de objetos fabricados a domicílio (impressora 3D), a
dos objetos conectados (internet das coisas) e a da energia.
As crianças que nascem neste começo de século devem viver
mais de cem anos. Todas aquelas que escaparem de algum desastre,
conhecerão o século XXII. Atravessarão um século que só de pensar
ficamos tontos. As mudanças que nos aguardam neste século são,
de fato, estonteantes. Personagens como Ray Kurzweil imaginam
que uma nova espécie terá lugar, para nos substituir, nós, os huma-
nos, em uma simbiose entre o orgânico e a máquina, o humano e o
robô, uma nova e grande inteligência artificial. Yuval Harari propõe
que os humanos estão em vias de criar novos desafios, entre os
quais a eternidade, sob o signo de uma nova religião, agora não
humanista. Talvez não cheguemos lá neste século, mas assistiremos
mudanças radicais quando os veículos autônomos começarem a se
disseminar, a dessalinização das águas salgadas seja viável econo-
micamente, os computadores quânticos tornarem-se viáveis, e,
sobretudo, surjam máquinas inteligentes que substituam os huma-
nos, gradativamente, em todas as suas tarefas, aprendendo mais e
construindo outras máquinas inteligentes. Toda a nossa vida será
modificada ao longo deste século, e a medicina conhecerá uma revo-
lução, assim como a escola – esta eterna imutável –, o trabalho, o
consumo, a habitação, o transporte. Tudo, inclusive a política.
Isto significa que o locus preferencial da mudança, que no
século XX era a política – e seu fim foi anunciado pela queda do
muro de Berlim – passa a ser ocupada pelas inovações tecnológi-
cas. Elas estão definindo e irão condicionar nossa forma de produ-
zir, consumir, educar, amar e viver. Em consonância com o deslo-
camento do poder, que residirá não mais no estado (em minúscula
como gostam os regulacionistas franceses), mas em organizações
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Elimar Pinheiro do Nascimento