A democracia tem futuro?
Elimar Pinheiro do Nascimento
E
studos prospectivos são sempre passeios sobre o pântano.
Repleto de emboscadas, sustos, imprevistos e erros. No
entanto, os humanos sempre foram enfeitiçados por este tipo
de aventura. Mesmo sabendo que o futuro não pode ser conhecido
plenamente, sentem-se fascinados por desvendá-lo. Afinal, desven-
dar o futuro está entre nossos mitos e anseios mais profundos.
É um mistério a que somos atraídos, e nos entregamos diletan-
temente, às vezes, mas outras, com sérias expectativas. As ciên-
cias sociais nasceram sob este signo: desvendar o futuro. Este era
o sonho do positivismo; está presente na física social de Auguste
Comte, em meados do século XIX. Mas, também, no arcabouço
da teoria de Marx – segundo ele, o nosso futuro é o comunismo.
Atribui-se à sociedade uma lógica difícil de ser explicada, como se
houvesse um fim, um objetivo finalístico nas relações sociais que a
tecem, ademais daquele que atribuímos em nossas narrativas fictí-
cias. Ou seja, uma finalidade objetiva, jamais comprovada.
O cotidiano do humano, desde tempos imemoriais, e mesmo
na modernidade, é eivado de ações prospectivas, desde a decisão
de mudar de habitat entre os nômades, até a decisão de atraves-
sar uma rua ou investir nossas poupanças, quando as há. Deci-
dimos o que vamos estudar em função de um futuro que imagina-
mos para nossa profissão, em termos de ganhos financeiros,
reconhecimento e prazer. Portanto, a prospecção é um eterno
companheiro dos humanos.
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