Desfazer as confusões pd52 | Page 125

A democracia tem futuro? Elimar Pinheiro do Nascimento E studos prospectivos são sempre passeios sobre o pântano. Repleto de emboscadas, sustos, imprevistos e erros. No entanto, os humanos sempre foram enfeitiçados por este tipo de aventura. Mesmo sabendo que o futuro não pode ser conhecido plenamente, sentem-se fascinados por desvendá-lo. Afinal, desven- dar o futuro está entre nossos mitos e anseios mais profundos. É um mistério a que somos atraídos, e nos entregamos diletan- temente, às vezes, mas outras, com sérias expectativas. As ciên- cias sociais nasceram sob este signo: desvendar o futuro. Este era o sonho do positivismo; está presente na física social de Auguste Comte, em meados do século XIX. Mas, também, no arcabouço da teoria de Marx – segundo ele, o nosso futuro é o comunismo. Atribui-se à sociedade uma lógica difícil de ser explicada, como se houvesse um fim, um objetivo finalístico nas relações sociais que a tecem, ademais daquele que atribuímos em nossas narrativas fictí- cias. Ou seja, uma finalidade objetiva, jamais comprovada. O cotidiano do humano, desde tempos imemoriais, e mesmo na modernidade, é eivado de ações prospectivas, desde a decisão de mudar de habitat entre os nômades, até a decisão de atraves- sar uma rua ou investir nossas poupanças, quando as há. Deci- dimos o que vamos estudar em função de um futuro que imagina- mos para nossa profissão, em termos de ganhos financeiros, reconhecimento e prazer. Portanto, a prospecção é um eterno companheiro dos humanos. 123