Desfazer as confusões pd52 | Page 121

Pelas nossas pesquisas, podemos destacar que o Quilombo durou mais de 120 anos – apresentando-se, possivelmente, como a maior luta de classes da História da América Latina – e isso só foi possível porque os palmarinos entenderam que eram parte de uma luta geral e não travavam uma luta à parte. Convém examinar, além das formas de organização material do Quilombo (trabalho livre, propriedade comunitária da terra), a complexa questão do território efetivamente controlado pelos quilombolas. Um território frequentemente invadido, depredado. Trata-se, na realidade, de uma sociedade acossada. Nesse contexto, as forças produtivas não têm como se expandir além das atividades de subsistência e se encontram, de fato, bloquea- das. Essa a tragédia maior do movimento, a nosso juízo. Com efeito, em Palmares vigora uma forma social de produção algo coletivizada, cuja especificidade maior consiste em ser transi- tória e em servir de refúgio para os perseguidos e espoliados da sociedade oficial, colonial. A segurança e a sobrevivência, a guerra e o medo – eis os verdadeiros motores da comunidade palmarina. Zumbi dos Palmares foi o grande nome dessa epopeia. Bati- zado com o nome de Francisco, ele nascera na mítica Serra da Barriga, em 1655. Nasceu livre, portanto; nunca foi escravo de ninguém. Tinha 40 anos ao ser assassinado. Criado pelo padre Antonio de Melo, o menino Francisco, então coroinha que "conhe- cia todo o latim que há mister e crescia em português e latim muito a contento", fugira para Palmares em 1670, tornando-se, em poucos anos, o dirigente máximo do Quilombo. Para o historiador Joel Rufino dos Santos, a troca de nomes de Francisco para Zumbi poderia significar uma recuperação da própria identidade, das raízes africanas. Faz sentido. Mas mesmo assim, resta saber se Zumbi mesmo reivindicava esse nome para si, ou se, ao contrário as autoridades é que se referiam a ele dessa forma – o que também não deixava de ser significativo. A documentação histórica permite concluir que, ao aceitar o confronto final em Macaco, capital do Quilombo, no ano de 1694, Zumbi provavelmente não via outra saída para si e o movimento que ele liderava. Ou seja, fora até o limite de suas forças. Mas essas mesmas forças esbarravam nas chamadas condições históricas objetivas. Zumbi: dos Palmares e de todo o Brasil 119