ouviram o conselho de “pôr o pé no freio” pois a corda pode arre-
bentar do lado mais fraco”. No início de março de 1964, cabos e
sargentos começaram a quebrar a hierarquia militar e a classe
média amedrontada iniciou as Marchas da Família com Deus
pela Liberdade. No dia 31 de março ocorreu o golpe cívico-militar
que derrubou o governo de Jango e instaurou uma ditadura. Não
obstante o novo contexto criado pela derrota, a esquerda dogmá-
tica insistiu numa escalada de confronto, acreditando que derru-
baria a ditadura pela via militar. O resultado foi um endureci-
mento do regime militar que perdurou por 21 anos.
No Chile, cercado por várias ditaduras militares, a Unidad
Popular elegeu Salvador Allende, um socialista marxista, para
presidente. Allende acreditava na possibilidade de uma experiên-
cia de socialismo democrático neste país apesar da derrota do
“socialismo de face humana” de Dubcek, na Checoslováquia. dois
anos antes. A soma de votos da Democracia Cristã e da direita foi
superior a 50% enquanto Allende obteve cerca de 35%. A direita
se opôs à sua posse e a bancada da Unidad Popular no Parla-
mento também era minoritária.
No plano internacional, Nixon enfrentava o auge da Guerra do
Vietnã e os Estados Unidos não permitiriam um Chile socialista. A
CIA realizava provocações constantes. Numa democracia frágil, as
dificuldades do governo eram imensas. Mas o governo também era
torpedeado pelo Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR).
Este movimento, criado em 1965, preconizava a luta armada e era
muito ligado a Cuba. Durante o governo do presi- dente Eduardo
Frei, era ilegal. Quando Allende tomou posse, o MIR decidiu por
“um apoio crítico” e foi legalizado. Aproveitou a legalidade para
criar os “movimentos revolucionários” dos campo- neses,
estudantes secundaristas e universitários e dos operários, entre
outros. Quanto mais as dificuldades aumentavam, mais o MIR
tensionava o governo pela tomada do poder pela força, sem medir
as reais condições para isso nem as consequências decor- rentes
para a democracia.
No dia 11 de setembro de 1973, o Exército liderado pelo gene-
ral Augusto Pinochet, deu um golpe do qual resultou uma dita-
dura sanguinária que perdurou por 15 anos.
Retomando a crônica de nosso país, ainda antes da fundação
do Partido dos Trabalhadores, as forças que o comporiam no ano
seguinte (1980) não aceitaram a anistia conquistada que, apesar
Lições históricas que a esquerda dogmática insiste em ignorar
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