Date a Home Magazine | Jan / Fev 2014 | Page 42

pediram-me para ficar a tempo inteiro e eu tive de dizer que não. Já tinha muito tempo ocupado com os Delfins.

Achei que, se queria fazer uma coisa bem, tinha de optar. Por muito que tenha ficado com alguma mágoa por ter deixado arquitetura, não estou arrependido.

Le Corbusier, um dos brilhantes arquitetos do sé- culo XX, defendia que “o lar deve ser o tesouro da vida”. Ser arquiteto acrescenta-lhe algo à forma como interpreta o que está à sua volta?

Acrescenta-me uma grande curiosidade. Quando viajo estou muito atento à arquitetura, ao plane- amento do território. Um dos meus hobbies, quando viajo com os músicos, é sair do hotel de manhã e andar não sei quantos quilómetros para conhecer as ruas, os edifícios, a cidade.

É engraçado. Há dias estive em Londres, em casa de familiares que estão a viver num condómino que me fez lembrar Le Corbusier e a maneira como ele “arrumava” as famílias, as células daqueles projetos utópicos do princípio do século. A histó-ria da arquitetura está sempre presente em mim. Vejo uma obra e penso logo na inspiração que lhe deu origem: “isto é Bauhaus, isto é Modernismo”. No fundo sou um “gourmet da arquitetura”.

Existe em sua casa alguma divisão que o inspire, onde prefira compor e escrever?

Eu tenho em casa uma divisão com um teclado com piano, mas como tenho a minha guitarra e o meu amplificador preferidos na sala, junto da lareira, muitas vezes estou no sofá a tocar, uso o ipad e escrevo a letra. Quando preciso de gravar o tra-balho vou para o meu mini estúdio.

Por exemplo, a pré-produção do meu primeiro disco a solo foi feita numa das salas do meu gui-tarrista, o Rogério Correia, na Avenida dos Estados Unidos da América, em Lisboa. Era uma sala que estava sempre desocupada e, como não tínhamos vizinhos, passávamos lá as tardes com as guitarras a compor. Eu trazia a canção de casa, e o arranjo e a estrutura fazíamos ali. O trabalho nascia naquela sala de estar.

Eu gosto muito de salas de estar. São lugares de convívio e oferecem um conforto característico. Por exemplo, aquela sala na casa do Rogério Correia é antiga, repleta de relógios antigos, com umas cortinas de veludo. Sentimos logo um am-biente diferente.

Gosta de estar em casa? Isso proporciona-lhe que sensações?

Sou caseiro qb, mas gosto muito do conforto da minha casa. Gosto muito da casa porque é um edifício antigo, com 40 e tal anos, e que mantém o soalho

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