Curvilínea - 1ª Edição Revista Final | Page 26

Já dizia minha avó: o importante é ter saúde Giovanna Rosti Vicentine Após o ingresso na faculdade e passar quatro meses sem ver a família, durante as férias fui à casa de meus avós e ainda lembro a frase que meu avô proferiu logo quando atravessei a porta: - Nossa, você está viçosa, bonita, está gorda! Aquilo desceu entalado aos meus ouvidos, tudo o que eu menos queria ouvir naquele momento era que estava gorda. Meus senti- dos, obviamente, como o de qualquer outra mulher que é insatisfeita com aqueles quilinhos a mais (a maioria), não ouviu a parte da bonita ou viçosa. Era bem mais alto e estridente o “você está gorda”. Perdeu a graça a visita. O pão caseiro que sempre me enchia a boca de saliva, eu recusei. Passados vários dias, me indaguei, porque meu avô de uma ge- ração diferente a minha acha que uma mulher por estar gorda está também bonita? Por que não nasci naquela época? Por que fui nascer gordinha na época de padrões tão inalcançáveis? E é aí que a gente cai na real. Os padrões são feitos para se- rem inatingíveis mesmo. Que na época do meu avô, as mulheres tinham que cuidar de famílias com vários filhos, trabalhavam em lavouras de café, tinham uma alimentação sem fast foods e quando engordavam era sinal de saúde, por estarem menos so- brecarregadas. Estar com uns quilos há mais era estar dentro dos padrões de beleza, ter um corpo preparado para procriação. Durante o passar dos anos a gente percebe que comer aquele doce maravilhoso é melhor do que ter um número a menos na etique- ta da calça. Aonde está escrito que ser gorda é sinal de falta de beleza? Deixem as gordas em paz. Deixem as gordinhas usarem as roupas que se sentirem à vontade. Que saúde e felicidade vêm sempre em primeiro lugar e é isso o que importa. Não adianta ser magérrima e não ter saúde e o contrário também. E os padrões? Ah os padrões serão sempre inatingíveis. 26