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CULTURA DO ESPORTE

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“Alléz, Gugá” – 20 anos de Roland Garros

Danielle Torri

Em 11 de junho de 2017, um domingo, assisti à final de Roland Garros, o Aberto da França, um dos quatro mais importantes torneios de tênis do mundo. No mesmo dia uma emissora de televisão apresentou longa reportagem em homenagem aos vinte anos do primeiro título de Gustavo Kuerten na mesma competição. Minhas memórias daquele 06 de junho de 1997 se tornaram mais vívidas, lembrei-me de como naquele belo domingo nasceu um ídolo brasileiro no esporte.

Para mim, o tênis naqueles anos não era um esporte completamente desconhecido, mas tampouco fazia parte das modalidades a que eu tinha acesso. Eu não conhecia suas regras, parecia-me demorado demais e somente o assistia pela televisão. Cresci numa pequena cidade do Meio Oeste catarinense em que o esporte mais praticado, discutido e assistido é, sem dúvidas, o futebol. Lá imperam todas as suas formas: profissional, não profissional, society, futsal. Há torneios de fim de semana, disputa de pênaltis, campeonatos municipais, escolares etc.

Nas escolas daquela época, o quarteto fantástico formado por futebol, vôlei, handebol e basquetebol formava o conteúdo principal das aulas de Educação Física, com um bimestre dedicado a cada um deles. O tênis, definitivamente, não era (e ainda não é) um esporte praticado e mesmo conhecido no ambiente escolar. Em Fraiburgo, daqueles anos havia apenas quatro quadras de tênis de campo. Na época de minha infância ficavam bem guardadas em um clube social acessível apenas a uma pequena parcela da população que podia arcar com as mensalidades, todo

cercado de grades e fora do centro da cidade. O piso das quadras sequer era de saibro, que naquele momento eu nem sabia o que era. A internet ainda não oferecia o Google para sanar as dúvidas que rondavam nossas cabeças. Hoje nem mesmo restam as quatro quadras de então.

Minha curiosidade com a bola amarelinha era imensa. Quando finalmente a conheci, porque meu pai viria a vendê-las em sua loja de materiais esportivos, só foi possível manuseá-las, já que, caras demais, não se nos permitia o luxo de recebê-las como presente. Mas, estas e também as raquetes, eram objeto de cobiça. Mesmo sem quadra, rede e sem saber como praticar, o desejo de possuir um jogo de raquetes e bolinhas era imenso.

O tênis não tinha visibilidade, perdia longe para o futebol que por sua vez, apenas cedia espaço para o voleibol, já que a seleção brasileira de Marcelo Negrão havia vencido as Olímpiadas cinco anos antes e o esporte era seguidamente transmitido. Os ídolos tenistas eu via ocasionalmente na televisão. Dentre as mulheres, Gabriela Sabatini reinava absoluta. Eu era fascinada por sua beleza. Minha mãe possuía um vidro de perfume importado assinado por ela, a sete chaves escondido de nós, crianças. Chique, caro e raro demais para mãozinhas e pescoços pequenos, a caixinha do perfume, azul-escuro e lilás, hipnotizava meus olhos quando sua proprietária o deixava à vista. Se por alguma grande chance do destino eu encontrava o armário aberto, saía do quarto ventilando ares doces e sofisticados, apenas para ir à escola. Junto à argentina Gabriela, somavam-se Steffi Graf e Martina Navratilova, loiras que povoavam meu imaginário por conta das elegantes roupas,