Contemporânea Contemporânea #7 | Page 31

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e a opção do país pela internacionalização da luta pelo socialismo. Essa parecia ser uma tese cara ao Che, mas não plenamente compartilhada pelas demais lideranças da revolução, menos ainda, pelo povo cubano, o que não é difícil explicar. Seja como for, as dificuldades para a escrita de uma história não oficial de Cuba são evidentes em função do fechamento do regime. Claro, como não há consenso entre detratores e defensores do regime em relação aos rumos da Revolução, toda tentativa de compreensão é necessariamente limitada pela precariedade de evidências históricas conhecidas.

Mas excetuando os inimigos declarados, militantes contra o movimento revolucionário, parece fazer sentido a ideia de que a Revolução se anunciou como a libertação do povo cubano de um regime de opressão e tirania. Não é demais lembrar que as milícias a serviço de Batista adotavam práticas de silenciamento como rotina. Ou seja, a opressão, a violência e a tirania combatidos até aquele momento, e vencidos, se fundavam em princípios “liberais” capitalistas que, de maneira apenas aparentemente paradoxal, impediam o país de se modernizar com autonomia. Assim, vemos em inúmeros documentos um tipo de exaltação da Revolução por largas parcelas do povo cubano, aí incluídos intelectuais, artistas, jornalistas etc.

No entanto, parece que os dilemas da Guerra Fria, a ameaça de um Vietnã na América Latina, os arroubos internacionalistas de Ernesto Guevara, significaram uma mudança de foco nos rumos da Revolução. Para muitos críticos, o personalismo de Fidel Castro seria um outro ingrediente para o gradativo e definitivo fechamento do regime, que tornaria Cuba um país bastante ambivalente no imaginário político do final do século XX. Por um lado, um país pobre, sem indústria, que vivia praticamente da monocultura, alcançou resultados

espantosos nos mais diversos campos, tais como saúde, educação, esporte, artes etc., realizando alguns dos princípios mais caros ao socialismo. Por outro, instaurou-se um regime de terror, perseguição, prisões políticas, censura e apagamento das diferenças, mostrando a pior face do que já havia sido a experiência soviética. Dessa ambiguidade emergiu uma polarização entre os “contra” e “a favor” de Cuba, como se de uma partida de futebol se tratasse. Mais: pouco se conhecia sobre a sua história e sobre o seu cotidiano para que aqueles que não viviam no país pudessem ter uma noção clara do que era comédia e do que era farsa no drama cubano.

Um exemplo, entre tantos outros, dessa polarização nos é oferecido por dois dos mais icônicos representantes da cultura cubana pós-revolucionária, os músicos Pablo Milanés e Silvio Rodriguez. Amigos, parceiros e militantes contra os desmandos dos poderosos na América Latina, em algum ponto de suas trajetórias se deu o rompimento entre os artistas. Embora pouco se saiba sobre os motivos, até porque ambos se negam a falar publicamente sobre os problemas que os afastaram, o fato é que Pablo Milanés mais de uma vez deixou entrever algum tipo de colaboracionismo de Rodriguez com os desmandos da ditadura de Fidel Castro. Silvio, é certo, sempre que pode faz a apologia do país, do governo e dos Castro. Milanés defende que a Revolução, necessária e justa, foi traída pelos donos do poder. Rodriguez defende a Revolução e os seus desdobramentos como parte da necessidade de Cuba para