Contemporânea Contemporânea #7 | Page 13

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Tudo é movimento...

pintura – instrumentos, como os pinceis, temas que lhe eram caros, assim como o figurativo, foram abandonados –, partindo para pesquisas e experiências mais livres com formas e cores. O artista passou a ser uma espécie de inventor – em certo sentido todo artista o é –, associando seus conhecimentos de Engenharia aos de Arte e criando obras que vão de telas tridimensionais a objetos cinéticos feitos de hastes e discos de madeira que se movem por dispositivos mecânicos ou magnéticos. A isso se soma seu momento na indústria de design na produção de móveis e objetos decorativos. Parte desse material pode ser visto no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro até o mês de abril do corrente ano em exposição denominada Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura. E foi por causa dela que o movimento da minha memória deu seu start. ․

Movimento. Esta é a palavra-chave para descrever a obra de Palatnik. Não é à toa que seu grande reconhecimento emerge, precisamente, de um

novo fazer artístico, da chamada arte cinética que ttraz ao olhar um encantamento pelo jogo entre as formas e os materiais trabalhados. O aspecto lúdico (elemento que pode caracterizar a arte, mas também as brincadeiras infantis) das obras é evidente, criando imagens coloridas, instigantes e curiosas que nos fazem querer interagir com os objetos, senti-los não só visualmente, mas também de forma tátil (algo que não é permitido, já que não são instalações interativas). Este desejo é a vontade de entender como cada obra funciona, como e do que são feitas.

A exposição inicia com os objetos cinéticos e fatalmente lembrei das aulas de Física e do laboratório a que acima me referi. Outras duas

imagens também me vieram à mente. A primeira: um quarto de criança cheio de móbiles coloridos que se movimentam para todos os lados, um espaço de brincar com objetos de brincar. A segunda: os quadros de Kandinsky com seus círculos, curvas, retas, cores e movimento, indicando, ao menos para mim, um diálogo tridimensional entre o artista brasileiro e o pintor russo, considerado o primeiro do Ocidente a produzir pinturas abstratas. Neste conjunto vê-se bem a utilização de materiais industriais como arames, parafusos, porcas, lâmpadas, ímãs e fios, encontrando um debate entre arte e ciência, na medida em que Palatnik confere dimensão estética à mecânica.

Saindo dos objetos chegamos às telas de autoria do artista, a brincadeira continua, especialmente com os materiais que compõem cada obra. A tridimensionalidade segue em destaque, assim como as ondas, que combinadas à paleta de cores, geram

movimentos nas telas. O jogo aqui é de ilusão de ótica e quase sempre é preciso se afastar e se aproximar das obras para ver como se movem, mas também, como foram feitas, com que materiais e recursos. Fascinante é notar que em muitas delas a sensação de tridimensionalidade não passa de resultado da combinação de pedaços de madeira ou de acrílico de dimensões idênticas, dispostos alternadamente conforme sua coloração, criando contrastes entre claro e escuro. Em outras vê-se que realmente os materiais se prolongam para fora das telas ou mesmo se retraem para dentro delas, especialmente nas produzidas em cartão, com cortes no plano

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