Catálogo Cine FAP Western | Page 23

Tudo em Josey Wales remete às obras-primas realizadas por Eastwood na década de noventa , a começar por Os Imperdoáveis -- ao mesmo tempo sua refilmagem e continuação . Nos dois filmes está presente uma mesma visão decadente do oeste , nas antípodas das narrativas épicas de Ford : espaço de utopias falidas , terra de brutos , mutilados , desiludidos , tiranos e desgarrados . Há , no entanto , uma enorme dívida para com Ford , um ponto de convergência na estratégia artística de ambos que é a utilização deste território como um espaço alegórico privilegiado onde se situam e confrontam-se as forças que compõem o tecido social dos Estados Unidos . Em Josey Wales há um importante salto nesta direção , deixando um pouco para trás a forma fabular , mística , de seu primeiro faroeste , O Estranho sem Nome -- embora a paisagem de Josey esteja prenhe de um irrealismo latente .
Há neste trajeto simbólico rumo ao próprio aniquilamento um moto profundo do cinema de Eastwood que é o impulso de morte . É um dado presente em praticamente todos os seus filmes -- lembremos de Bird , Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal e principalmente do último plano de Cowboys do Espaço -- e manifesta uma visão pessimista por certo . Eastwood é o grande narrador da falência dos valores sobre os quais a sociedade americana foi erigida , seu maior cronista por assim dizer , mas não um ressentido . Há um certo pesar no cumprimento de seu papel , uma autêntica melancolia de alguém que acredita , no fundo , na viabilidade de um mundo , não necessariamente perfeito , mas justo e livre de corrupção .