Mudança para a enfermaria, nunca imaginei sentir tanta dor, e
eu que imaginava que já sabia como era sentir dor, era realmente
inacreditável o que senti, desespero, sem conseguir dormir por duas
noites e dois dias, sem saber se conseguia ficar em pé, deitado de
lado, ou sentado, as dores eram insuportáveis em qualquer posição,
vontade fugir, mas sem forças para ir ao banheiro, enlouquecendo a
minha mente e da equipe de enfermagem, sentia dores terríveis.
Mas enfim conseguiram achar uma medida de medicação
que me desse um pouco mais de tranqüilidade e minha vida
melhorou muito, acredito que vida da equipe também, só aí consegui
perceber o local que eu estava, neurocirurgia, local com pessoas
muito piores que eu, com dores intermináveis, com cirurgias na
cabeça, problemas motores, de comunicação era desespero por
todos os lados que eu olhava.
A os poucos me inserindo com o ambiente, comecei a ver o
desespero de muito colegas pacientes, pessoas que estavam ali a
pouco tempo que chegaram falando e que agora estavam tentando
se comunicar de alguma maneira, pessoas em cadeiras de roda sem
movimento nenhum percebi a necessidade de tentar de alguma
forma auxiliar, motivar estas pessoas desoladas, tentando levar
esperanças a estes colegas, já que no momento eu estava em
melhores condições que a maioria, das vezes você percebe que
reclama de barriga cheia.
Até que enfim veio a alta, pensei que maravilha, estou quase
pronto para reiniciar a tal vida nova, mas ainda não, dores,
problemas musculares, problemas na coluna, curativos complicados
de cicatrizar, falta de mobilidade e ver o tempo passando sem poder
levar a filha na escola, sem poder passear nos finais de semana, mas
temos que dar tempo ao tempo e continuar forte na luta contra este
maldito cancro que é duro de matar.
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